O Evangelho de hoje explica-nos como é que podemos “arranjar bilhete” para entrar na corte celeste, onde Cristo está sentado num trono glorioso. Ali, a lotação nunca esgota. O bilhete é gratuito mas não elimina a responsabilidade do Homem. Por isso há Porteiro e o ambiente é seleccionado. Diariamente somos confrontados com o Cristo que passa, mendigo de amor, peregrino, doente. Podemos fazer caso ou deixá-lo passar despercebido. Podemos ser como as ovelhas ou como os cabritos.
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1. Nosso Senhor Jesus Cristo, Rei do Universo! Assim O proclamamos, mesmo sabendo que Jesus rejeitou o título de rei, quando este tinha um significado político, à maneira dos "chefes das nações" (Mt 20, 24). Ao contrário, durante a sua paixão, ele reivindicou uma singular realeza diante de Pilatos e respondeu: "Tu o dizes, eu sou rei" (Jo 18, 37); mas pouco antes Jesus tinha declarado: "o meu reino não é deste mundo" (Jo 18, 36). De facto, a realeza de Cristo é a atuação da realeza de Deus Pai, que governa todas as coisas com amor e com justiça!
2. O Evangelho insiste precisamente sobre a realeza universal de Cristo juiz, com a maravilhosa parábola do juízo final! As imagens são simples, a linguagem é popular, mas a mensagem é extremamente importante: é a verdade sobre o nosso destino último e sobre o critério com o qual seremos avaliados: as obras de misericórdia. "Tive fome e deste-me de comer. Tive sede e deste-me de beber. Era forasteiro e recolheste-me" (Mt 25, 35) e assim por diante. Quem não conhece esta página? Faz parte da nossa civilização. Marcou a história dos povos de cultura cristã: a hierarquia de valores, as instituições, as numerosas obras benéficas e sociais. De facto, o reino de Cristo não é deste mundo, mas realiza todo o bem que, graças a Deus, existe no homem e na história. Se pomos em prática o amor ao nosso próximo, segundo a mensagem evangélica, então criamos espaço para o senhorio de Deus, e o seu reino realiza-se no meio de nós. Se ao contrário, cada um pensa só nos próprios interesses, o mundo vai inevitavelmente em ruínas!
3. É bom recordarmos hoje o teste definitivo da nossa existência. Esta será a pergunta: «que fizeste tu a esse irmão que encontraste a sofrer no teu caminho»? Nós gostaríamos de poder resolver tudo duma forma muito simples: dando dinheiro, trazendo a nossa esmola e contribuindo nos peditórios! Mas as coisas não são tão simples. «As exigências do amor que aqui se indicam não se satisfazem com o dinheiro, pela simples razão de que a própria forma de adquirir esse dinheiro volta a fazer crescer a pobreza que se quer remediar» (Joann Baptist Metz). O amor aos necessitados não pode ficar reduzido a «dar dinheiro», até porque não tem sentido mostrar a nossa solidariedade ao necessitado, com dinheiro adquirido, talvez de maneira injusta e sem compaixão de nenhuma espécie! Para o homem bíblico, «dar esmola» é mais do que isso: equivale a «fazer justiça» em nome de Deus, àqueles a quem os homens a não fazem!
4. A tradição das obras de misericórdia encontra, hoje, uma renovada atualidade, precisamente porque vai ao encontro de algo essencial, que corre hoje o risco de se perder na piedade dos nossos discursos e das nossas práticas religiosas: ou seja, a caridade é um encontro de rostos, discernimento concreto das necessidades do corpo e da alma, é gesto e palavra, capacidade de relação, de escuta e de atenção. É, por isso, atividade eminentemente espiritual, precisamente no seu acontecer, no corpo, e graças ao corpo. É cuidado do outro e ação pelo outro e, ao mesmo tempo, cuidado de si e ação e trabalho sobre si, de modo que quem bem o faz, para si o faz. «Faz isto e viverás», diz a Escritura (cf. Lv 18,5; Dt 4,1; 5,29; 6,24; Lc 10,28).
5. Numa época em que o virtual se sobrepõe ao real, é preciso questionar uma certa caridade “à distância”, sem encontro frente a frente, sem compromisso pessoal, sem gestos de proximidade! Uma caridade reduzida a filantropia ou a beneficência social poderá revelar o encontro com Cristo no outro?! Nestes tempos difíceis, voltar às obras de misericórdia significa apreender a caridade, como arte do encontro, como arte da relação, como arte de viver, mas significa sobretudo novo impulso de humanidade, para não permitir que o cinismo, a barbárie e a indiferença levem a melhor! No final da vida, o decisivo não é afinal a fé, nem a religião, nem a boa intenção. No final da vida, seremos julgados, diante do grande amor divino, seremos julgados pelo simples e verdadeiro amor humano!
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