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"A opção fundamental da Vida de um Cristão é acreditar no Amor de Deus" Bento XVI

domingo, 26 de fevereiro de 2012

DESTE MODO NUNCA TÍNHAMOS VISTO!

1. Tinha Jesus saído de casa e de Cafarnaum na madrugada daquele primeiro dia da semana, muito cedo, para rezar num lugar deserto (Marcos 1,35). Procuraram-no os seus discípulos e aí o encontraram. Movia-os a ideia de o fazer regressar a Cafarnaum, apresentando para isso uma razão que julgavam suficiente: «Todos te procuram (zêtéô)» (Marcos 1,37). Já sabemos que Jesus os deixou boquiabertos, apontando-lhes outros critérios: «Vamos a outros lugares, às aldeias vizinhas, para que também lá ANUNCIE (kêrýssô); na verdade, foi para isto que saí (exêlthon)» (Marcos 1,38). Entenda-se neste «sair», não o simples facto de Jesus ter saído naquela madrugada de casa e da cidade, mas o grande êxodo de Jesus, expresso nas suas próprias palavras: «Saí (exêlthon) do Pai e vim para o mundo» (João 16,28).
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2. Sim. Andavam equivocados os discípulos de Jesus. Quem procura quem? Na verdade, como «o Pai procura os seus adoradores» João 4,23), também Jesus «vem procurar e salvar o que anda perdido» (Lucas 19,10). Divina procura. Por isso, Jesus enceta sempre novas procuras e empenha consigo os seus discípulos neste comportamento novo e inaugural.
3. Ei-lo, portanto, neste Domingo VII do Tempo Comum, de regresso a Cafarnaum, sempre sujeito, e não objecto, de novas procuras que desencadeiam novas maravilhas (Marcos 2,1-12). O cenário é simples. A Cafarnaum do tempo de Jesus, que a arqueologia mostra a quem quiser ver, obedecia helenístico-romano, assente no cardo maximus, grandes ruas no sentido norte-sul, e nos decumani, travessas este-oeste, que desenhavam a cidade em quarteirões geométricos. As casas, por sua vez, apresentam a mesma planta e o mesmo tipo de construção: formadas apenas por rés-do-chão, sem andares, tinham no pátio de entrada, um amplo espaço a céu aberto, a sua parte principal, onde se desenrolavam as actividades normais do dia-a-dia: aqui estava o moinho, o forno, aqui as mulheres preparavam as refeições, aqui trabalhavam os artesãos, aqui dormiam nas noites escaldantes de verão em esteiras estendidas pelo chão. Deste pátio partiam diversos compartimentos, compridos e estreitos, cobertos por um tecto formado por algumas vigas de madeira e terra amassada com palha. Estes compartimentos internos eram diversos, porque a casa de habitação era certamente partilhada por diversos ramos familiares (família patriarcal); eram estreitos, porque se tornava difícil a cobertura de tectos largos, não havendo madeira na região; eram compridos, porque ter muitos filhos era um ideal a perseguir e uma bênção de Deus. O conjunto habitacional, esta casa, formada pelo pátio e pelos compartimentos, estava rodeada por um muro de pedras de basalto negro da região de cerca de três metros de altura, que tinha uma porta (a única porta de toda a casa que se podia fechar) que dava para o exterior.
4. Se à descrição acima feita, acrescentarmos agora que, na casa de Pedro em que Jesus está hospedado, a porta do muro que cerca o pátio e os compartimentos se situa na fachada E, ficamos a saber que a porta abre para a rua principal (cardo maximus), e que, no caso da casa de Pedro, entre a referida porta e a rua principal, há ainda um largo espaço adicional. A arqueologia ao encontro dos dados do Evangelho, que refere que «toda a cidade estava reunida junto da porta» (Marcos 1,33).
5. Fica também ao alcance da nossa compreensão o facto de o paralítico referido no texto do Evangelho tenha sido descido pelo tecto (fácil de destapar) de um dos compartimentos da habitação, dado que era impossível para quem o transportava poder ir até junto de Jesus através da multidão.
6. Também se percebe que é Jesus que nos procura, e que só Ele sabe procurar verdadeiramente. É Ele que nos vê (ideîn) primeiro e fundo. Ele vê a fé e perdoa, isto é, recria, como só Deus sabe e pode perdoar ou recriar (Marcos 2,5). Atenção que este belíssimo dito de Jesus: «Filho, são-te perdoados os teus pecados» (Marcos 2,5) só se ouve aqui e agora. Nem antes nem depois será dita coisa semelhante. Graça oferecida que não pode ser desperdiçada! Mas também vê os corações enviesados e esclerosados dos escribas (Marcos 2,6-8), e abre diante deles a porta da salvação. Também os escribas aparecem aqui pela primeira vez. Mas não única! A «blasfémia» também surge aqui pela primeira vez (Marcos 2,7). Aparecerá de novo em Marcos 14,64, e é a causa da morte de Jesus!
7. Enfim, para maravilha dos nossos olhos tantas vezes embotados, o paralítico passa «diante de toda a gente», ouve-se um novo Gloria in excelsis Deo, e a singular anotação: «Deste modo nunca tínhamos visto» (Marcos 2,12).
8. Em perfeita sintonia, aí está hoje Isaías 43,18-25 a pôr Deus a anunciar que vai fazer uma coisa nova. E essa coisa nova é o perdão primeiro e incondicional de Deus que abre avenidas de incontida e imerecida alegria na nossa vida.
9. Deus do SIM irreversível. O grande, imenso, intenso texto de Paulo (2 Coríntios 1,19) põe diante de nós esta lição sublime: «O Filho de Deus, Jesus Cristo, que foi ANUNCIADO por nós no meio de vós, não foi SIM e NÃO, mas unicamente SIM» (2 Coríntios 1,19). Junte-se este dizer de João: «Por meio d’Ele tudo foi feito» (João 1,3). E mais este, outra vez de Paulo: «N’Ele tudo foi criado» (Colossenses 1,16). E veja-se agora em contra-luz a pura filigrana da Escritura Santa: o texto da criação, apresentado no Livro do Génesis 1,1-2,4a, contém 452 palavras hebraicas. E não registra um único NÃO!
10. Há, na verdade, um modo novo de ver e de fazer.

António Couto

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