A Igreja celebra hoje duas notáveis figuras daquilo a que bem podemos chamar o Encontro entre Atenas e Jerusalém, entre a Filosofia e a Cultura Bíblica ou, ainda melhor, entre a Jerusalém da Fé e a Atenas da Razão. Refiro-me aos Santos Basílio de Cesareia e Gregório de Nazianzo, ambos do século IV, homens de grande Fé e Cultura, unidos por uma profunda Amizade e, não menos, pelo Ministério Episcopal. S. Basílio nasceu por volta do ano 330 em Cesareia da Capadócia e fez os seus estudos "superiores" em Constantinopla e Atenas, tendo sido nesta magnífica cidade de Cultura que ele se encontrou com Gregório de Nazianzo. Terminados os seus estudos em Atenas, regressou à Capadócia, actual Turquia, onde se dedicou à vida ascética, tendo construído um Mosteiro e redigido duas Regras, uma mais extensa e outra mais breve. Foi ordenado Bispo de Cesareia em 370, tendo a sua actividade sido distinta em muitos aspectos, um dos mais relevantes dos quais foi o contributo que deu para a clarificação teológica do dogma trinitário e para a definição da divindade do Espírito Santo. O seu empenho na reorganização da vida eclesial foi também notável, lutando para que fossem eleitos Bispos apenas homens capazes, e dignos, de o serem; além disso, desenvolveu também uma notável obra assistencial em favor dos mais pobres. Pessoalmente, relevo muito especialmente o facto de S. Basílio, depois declarado Doutor da Igreja, constituir na História da Igreja um dos mais notáveis defensores da Herança cultural Greco-latina, defendendo, pela sua grande cultura, o princípio de que a Igreja não deve, nem pode, ter nada a temer da Herança recebido das Culturas Clássicas, sobretudo de Gregos e Romanos. Curiosamente, no Tratado que escreveu sobre os Jovens ele defende com excelentes argumentos a exigência académica e o princípio de que não é possível estudar a sério a Bíblia e a Teologia Cristã sem recurso aos Estudos Clássicos, incluindo, evidentemente, a Filosofia. Por seu lado, S. Gregório, também conhecido como "O Teólogo" pela profundidade do seu sentido do Mistério de Deus, grande amigo de S. Basílio, distinguiu-se sobretudo pelos seus dotes literários e pela sua sensibilidade poética, já que como organizador e administrador, segundo rezam as crónicas, os seus dotes eram bastante limitados. E com isto, ao celebrar estes dois notáveis Bispos da Igreja, e homens de cultura, eu diria, para concluir: como é bom saber que na Comunidade Eclesial nem todos têm que ser o mesmo e a complementaridade, desde que fundada no melhor saber e na reflexão, é a estrutura que melhor nos permite progredir no Caminho que Deus nos abre. E como é importante, pelo menos para mim saber, que a Amizade, na vida e na História da Igreja, tem um lugar tão importante como este que "vemos" na vida destes dois grande Santos do século IV, S. Basílio de Cesareia e S. Gregório de Nazianzo.
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