A primeira leitura e o Evangelho que vamos escutar, ao referirem o poder das grandes potências políticas, os impérios deste mundo, realçam a diferença extrema entre eles e o poder de Deus: os primeiros não raro se corrompem e acabam por servir-se dos seus súbditos; mas Deus manifesta a Sua glória e o Seu poder na exaltação dos seus filhos.
1. E volta à carga, a carga fiscal! Também, no tempo de Jesus, metade do orçamento era para pagar impostos, ainda por cima, a uma potência estrangeira! Por isso, a pergunta a Jesus, que não é Prémio Nobel da Economia, cheira-nos bem a hipocrisia! É uma espécie de cilada, para apanhar Jesus, no que dissesse. “Deve-se ou não pagar o tributo a César”, perguntaram fariseus e herodianos, agora unidos numa coligação negativa, contra Jesus, o seu inimigo comum! Jesus deu a resposta, que fez história na história: «Dai a César o que é de César e a Deus o que é de Deus». Deste modo, Jesus relega a questão política dos direitos de César, para urgir e lembrar os direitos de Deus! De modo simples, Jesus parece dizer: se a imagem e a inscrição da moeda são de César, não há por que lhe negar esse direito: o seu a seu dono! Mas Jesus vai mais longe e mete “Deus” na conversa, para dizer: só a Deus, pertencem o céu e a terra, só a Deus pertenceis vós, que fostes criados à sua imagem (Gen.1,27) e tendes os vossos nomes inscritos nos céus (Lc.10,10)! Podeis e deveis comprometer-vos, com o mundo, com a sua transformação. Mas não sereis do mundo, isto é, não fareis de nenhum senhor deste mundo, nem do dinheiro, nem de qualquer outro poder, o vosso Deus! A Deus o que é de Deus! Só Ele é o Senhor e não há outro. São Paulo dirá: “Tudo é vosso, mas vós sois de Cristo e Cristo é de Deus” (I Cor.3,22-23)!
2. Com esta resposta, Jesus não nos diz que uma “metade” do ser humano ou do nosso mundo, pertence a César, e a outra metade a Deus! Seria um erro pensar que a primeira metade, a parte material, social, cultural e política da nossa vida, deva ser entregue aos poderes deste mundo; e, nesse sentido, a outra metade, a mais pessoal, religiosa, espiritual, ou interior, seria reservada para Deus. Não. Trata-se simplesmente de colocar Deus, como único Senhor, a quem nos damos, devemos e servimos. E, em nome deste Deus e do Reino que nos confia, comprometermo-nos na transformação deste mundo real, a que nos envia.
3. Estamos a iniciar a semana das Missões. E o Santo Padre vem recordar-nos precisamente que a missão universal, «empenha todos, tudo e sempre». Neste «tudo», estão as duas metades, as duas faces da mesma moeda: o compromisso pelo anúncio de Deus, e o compromisso com a transformação deste mundo!
4. Por isso, a primeira coisa, na nova evangelização, é colocar Deus, no coração da nossa vida e do nosso mundo, não O guardar para si, nem O esconder no espaço da intimidade pessoal! É preciso dar visibilidade a Deus, na grande praça pública deste mundo, para que, em tudo e sempre, Ele tenha o primeiro lugar!
Esta prioridade é uma urgência, num nosso tempo, como o nosso, em que “está em curso, uma mudança cultural, que leva a uma mentalidade e a um estilo de vida, que dispensam a o evangelho, como se Deus não existisse, e que exaltam a busca do bem-estar, do lucro fácil, da carreira e do sucesso, como finalidade da vida, mesmo em detrimento dos valores morais”.
Por isso, já dizia Paulo VI, “não é aceitável, que na evangelização, se descuidem os temas relativos à promoção humana, à justiça, à libertação de todas as formas de opressão, obviamente no respeito pela autonomia da esfera política. Desinteressar-se dos problemas temporais da humanidade significaria ignorar a doutrina do Evangelho sobre o amor ao próximo” (EN, 31.34).Porque o próximo é a outra face de Deus!
Assim se vê, que, ali, onde se esquecem os direitos de Deus e Deus é negado, também se ignoram os direitos do Homem e o homem é diminuído e desprezado!
5.O que de melhor podemos dar a César e a Deus, isto é, à causa do Reino de Deus neste mundo, é uma fé activa e comprometida, numa caridade esforçada por servir e amar a todos, dando assim ao mundo razões de uma esperança firme! Deste modo, o que nos é pedido é muito simples: estar no mundo sem ser do mundo!
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