Entrar em Lamego em dias de festa requer sempre uma elevada
dose de paciência. E, este domingo, não fugiu à regra. Às 15 horas já havia
longas filas de carros a entrar na cidade. Uma hora depois tomava posse, na Sé
Catedral, o novo bispo de Lamego, D. António Couto.
A cidade da Senhora dos Remédios tem uma devoção acima da média e nestas
coisas das festividades religiosas ninguém quer faltar. Sobretudo se o tempo
estiver bom como estava este domingo.
O templo começou a encher depois da hora do almoço até ficar cheio que nem um
ovo. Cá fora centenas de pessoas foram-se ajuntando para ver o bispo. À
cerimónia haveriam de assistir através de ecrãs espalhados por ali.
Às 15.45 horas houve forte foguetório. Sinal que D. António estava a chegar,
cumprindo o estipulado no protocolo. Dois grupos de escuteiros, de mãos dadas,
de frente uns para os outros, garantiam uma via livre entre a multidão para que
a comitiva passasse. E a Banda Filarmónica de Lalim estava preparada para tocar
o Hino Pontifício.
O bispo assomou ao princípio do corredor, acompanhado do antecessor D.
Jacinto Botelho e do presidente da Câmara de Lamego, Francisco Lopes, e logo se
ouviu: "Viva o nosso bispo. Viva!" D. António Couto, 59 anos, exibiu sempre um
sorriso largo.
Acenou a um lado e a outro, cumprimentou crianças e adultos, agradeceu a
calorosa recepção, até chegar à porta principal da Sé. Duas crianças
esperavam-no. Visivelmente envergonhados, disseram-lhe: "Bem-vindo à nossa
diocese". E deram-lhe um ramo de flores. "Ai que bonito!" retorquiu-lhes o
prelado, sempre sorridente.
E foi ali que o deão do Cabido e pároco da Sé, cónego Delfim de Almeida, lhe
deu boas vindas à diocese de Lamego. O mesmo fez o presidente da Câmara: "A
partir de hoje esta cidade também é sua. Queremos que nela se sinta como em
casa". Acto contínuo entregou ao bispo uma réplica da chave da cidade.
Já depois de ser empossado pelo núncio apostólico em Portugal, D. Rino
Passigato, representante diplomático da Santa Sé, D. António Couto salientou na
homilia que quer "levar a todos os lugares e a todas as pessoas desta bela
diocese este vendaval de graça e de bondade que um dia Jesus desencadeou".
De resto, o novo bispo de Lamego disse, ao JN, que quer dar o seu cunho
pessoal a um plano pastoral já existente e que tem a ver com a família e com a
nova evangelização. "Para isso quero ir ao encontro das pessoas às escolas, às
fábricas, às vinhas, aos sítios mais afastados... enfim, aonde quer que estejam,
para lhes levar uma palavra de carinho e esperança".
D. António Couto admite que "os pregadores da palavra de Deus fazem-no, às
vezes, de forma neutra ou abstracta". Diz mesmo "de uma forma chata". Por isso
"não cai nos ouvidos e nos corações das pessoas". O que se compromete a fazer é
que o Evangelho seja "vivo e eficaz como quando saía da boca de Jesus, que fazia
nascer no coração das pessoas uma vida nova, novos sonhos e atitudes". "Quero
investir muito neste aspecto, senão corro o risco de atirar palavras para o ar e
elas não caírem em coração nenhum", frisou.
Simpatizante do FC do Porto, mais por ter nascido no distrito do Porto - "já
que não sou dos que sofrem a ver os jogos" - tem o Sporting de Braga como
segundo clube, pois passou os últimos anos naquela cidade como bispo auxiliar.
"Agora também serei do Sporting de Lamego. Farei os possíveis por ir ver um jogo
de vez em quando", promete.
D. António Couto passou a liderar hoje a única diocese do país que não
coincide com um distrito e que abrange 14 concelhos do norte dos distritos de
Viseu e da Guarda, onde vivem cerca de 140 mil pessoas. Uma área que o prelado
assume conhecer, apenas, geograficamente.
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