«O Deus da Paz vos santifique totalmente, para que todo o vosso ser – espírito, alma e corpo – se conserve puro, para a vinda de Nosso Senhor Jesus Cristo» (I Tes.5,23)!
1. Deus não nos quer a meias! Não nos quer, por partes. Quer-nos inteiros, de corpo e alma, bonitos por fora, belos por dentro. Ele quer que todo o nosso ser, carne e espírito, corpo e alma, das mãos aos pés, dos pés à cabeça, da cabeça ao coração, se conserve puro, isto é, capaz de amar e de ser amado! E todo o nosso ser é puro, quando transparece a beleza e a santidade do amor de Deus! Na pessoa humana, este amor é, ao mesmo tempo, espiritual e carnal, “abarca o corpo e o corpo exprime o amor espiritual” (Familiaris Consortio, 21). Por outras palavras, não há nada na linguagem corporal, da afectividade e do amor, que, ao tocar o corpo, não toque também a alma! Temos de o saber: “Nem o espírito ama sozinho, nem o corpo: é a pessoa, que ama, no seu todo, de que fazem parte o corpo e a alma. Somente quando corpo e alma se fundem numa unidade, é que a pessoa se torna plenamente ela própria”(Bento XVI, DCE 5).
2. Assim, por exemplo, as palavras, os sentimentos, os desejos, e quaisquer gestos de ternura, devem sempre comunicar a verdade inteira do amor humano e transparecer a beleza do amor divino! Um gesto de carícia, um beijo, o contacto com o corpo de alguém, significa também e sempre tocar a própria alma do outro, fazer vibrar as cordas do nosso coração, numa aproximação que nos afecta totalmente.
3. A pureza de coração, a chamada «castidade», é, no fundo, o amor que anda de mãos dadas com a verdade! “A castidade – uma palavra “maldita” do nosso tempo – não pode ser vista como “corte” e “castigo”, mas como«educação e treino para superar toda a mentalidade de tipo apropriador e dominador, em relação a outra pessoa. Opõe-se frontalmente àquela mentalidade, que tende a usar e abusar de todas as coisas, como se fôssemos únicos donos de nós mesmos, do nosso corpo, e das nossas pulsões, e também das pessoas e do mundo que nos rodeia» (Carlo Maria Martini). A santificação de todo o nosso ser, «espírito, alma e corpo», implica, portanto, que todas as palavras e gestos da nossa afectividade “devam ser orientados, elevados e integrados pelo amor, que é o único a torná-los verdadeiramente humanos”. Rui Veloso canta uma bela música, onde diz: “Amar é o verbo revelado / Pela boca da divindade / Só deve ser invocado / Em caso de necessidade! (…) Não invoquem o amor em vão / É pecado, como deitar fora o pão /”.Eu não diria melhor, para falar de «pureza de coração», do domínio de si ao dom de si.
4. Esta pureza de coração, de intenções e actos, exige, portanto, uma limpeza diária, uma atenção constante. Por isso, a segunda palavra desta semana é «revisão de vida», dos pensamentos, das palavras, dos actos e omissões. Era isso que São Paulo recomendava quando nos dizia: «Avaliai tudo e guardai o que for bom». Aprendamos, pois, a fazer o “exame de consciência” diariamente, ao deitar, e antes de adormecer, para chegarmos a esta séria revisão de vida e examinarmos a nossa vida no amor. Pais e filhos podem ajudar-se mutuamente, colocando algumas perguntas, no silêncio do quarto, para responderem, cada qual, diante de Deus.
5. Irmãos e irmãs: Deus, que vem até nós, não é apenas uma pessoa importante! Ele é tudo. E, por isso, pede-nos tudo: espírito, alma e corpo. E só quando Deus é tudo em nós, é que todo o nosso ser se torna puro!Eis então duas palavras a gravar esta semana: pureza e revisão de vida. São atitudes do coração, que nos ajudam a construir a família, sobre o alicerce sólido do amor e da comunhão!
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