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"A opção fundamental da Vida de um Cristão é acreditar no Amor de Deus" Bento XVI

quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Homilia do Sr. D. Jacinto Botelho na Noite de Natal




Homilia pronunciada na Igreja Catedral de Lamego, a 24 de Dezembro de 2011

Chegamos à noite da Natal, para a qual procurámos preparar-nos ao longo do Advento, em ordem a podermos viver o seu genuíno significado. Ouvimos no texto do Evangelho a mensagem do Anjo do Senhor aos pastores das cercanias de Belém: Não temais, porque vos anuncio uma grande alegria para todo o povo: nasceu-vos hoje, na cidade de David, um Salvador, que é Cristo Senhor. É a concretização da profecia de Isaías, plena de esperança, apesar de proferida num horizonte de guerras eminentes, proclamada na primeira leitura, a qual terá o pleno cumprimento com o nascimento de Jesus.
Haverá razão para recomendar este contentamento nas circunstâncias penalizantes que esmagam tantos dos nossos irmãos? Se nos fosse comunicado que a crise tinha sido ultrapassada e consequentemente as medidas de austeridade iriam ser eliminadas, encontraríamos então talvez a felicidade anunciada. Deveremos entender neste contexto o que muitas pessoas pensam e nas reportagens de rua até expressam, afirmando resolutamente que as restrições económicas, impostas e experimentadas, impossibilitam a celebração do Natal.
Que significa para nós cristãos celebrar o Natal? Sua Santidade Bento XVI disse textualmente na passada quarta-feira no resumo em espanhol da catequese habitual: “Na sociedade de hoje, onde por desgraça as festas que se avizinham estão a perder progressivamente o seu valor religioso, é importante que os sinais externos destes dias nos não afastem do significado genuíno do mistério que celebramos, isto é: o Verbo divino se fez homem e habitou entre nós. […] O Eterno entrou nos limites do espaço e do tempo para tornar possível que hoje nos encontremos com Ele. Deus está perto de cada um de nós e deseja que O descubramos, para que com a Sua luz se dissipem as trevas que escurecem a nossa vida e a humanidade.” Na explanação da catequese que precedeu o citado resumo, o Santo Padre tinha sublinhado a importância e actualidade do hoje da saudação do Anjo aos pastores: Nasceu-vos hoje o Salvador. Ouçamos novamente a sua catequese: “Este advérbio de tempo, «hoje», aparece mais vezes em todas as celebrações natalícias e refere-se ao evento do nascimento de Cristo e à salvação que a Incarnação do Filho de Deus veio trazer. Na Liturgia tal acontecimento ultrapassa os limites do espaço e do tempo e torna-se actual, presente; o seu efeito perdura, no decorrer dos dias, dos anos e dos séculos. Indicando que Jesus nasce «hoje», a Liturgia não usa uma frase sem sentido, mas sublinha que este Nascimento entra e permeia toda a história, permanece uma realidade hoje também; à qual podemos chegar precisamente na liturgia. A nós, os crentes, a celebração do Natal renova a certeza de que Deus está realmente presente no meio de nós […]: Embora estando com o Pai, está próximo de cada um. Deus, naquele Menino de Belém, aproximou-se do homem: podemos encontrá-lo agora, num «hoje» que não tem ocaso.”
Quem dera, caríssimos irmãos, que nos déssemos conta de que é d’Ele que todos estamos carenciados; é esta presença que urge descobrir. Não resisto a partilhar convosco um outro pensamento do Santo Padre mais recente ainda, na apresentação dos cumprimentos natalícios por parte da Cúria Romana, na passada Quinta-feira: “No fim deste ano, a Europa encontra-se no meio duma crise económica e financeira que, em última análise, se fundamenta na crise ética que ameaça o Velho Continente”. E comentando seguidamente a necessidade de uma autêntica reforma declara peremptoriamente: “É preciso fazer tantas coisas; mas o fazer, por si só, não resolve o problema. O cerne da crise da Igreja na Europa é a crise da fé. Se não encontrarmos uma resposta para essa crise, ou seja, se a fé não ganhar de novo vitalidade, tornando-se uma convicção profunda e uma força real graças ao encontro com Jesus Cristo, ficarão ineficazes todas as outras reformas.” Com este objectivo vai realizar-se no próximo mês de Outubro em Roma a Assembleia Geral do Sínodo dos Bispos, tendo por tema A nova Evangelização para a transmissão da Fé cristã, e terá início o Ano da Fé a comemorar o Jubileu da abertura do Concílio Vaticano II. Faz precisamente hoje, dia de Natal, 50 anos que o Beato João XXIII o convocou.
É esta preocupação que aqui nos congrega? Precisamos mais que nunca do Natal. Quedemo-nos então diante da pobreza do presépio e do total desprendimento de Deus que dando-Se se faz homem, na mais humilde das situações e talvez nos demos conta de que a realidade dura com que nos debatemos, acabará por ser uma oportunidade para purificarmos o nosso comportamento, eliminando atitudes de ostentação, de opulência, de esbanjamento, nunca admissíveis, mas que agora seriam uma afronta ao sacrifício imposto aos pobres, cada vez em maior número.
Vivamos o Natal com a sobriedade que o Mistério desperta, e ao mesmo tempo, em consequência, prodigalizemo-nos em gestos de solidariedade, fazendo-nos também próximos de quantos precisam, correspondendo ao pedido do santo Padre: “Que nestes dias santos, a caridade cristã se mostre particularmente activa com os mais necessitados. Para os pobres não pode haver demora.” Quero testemunhar o meu profundo apreço, o meu grande reconhecimento e muito carinho por quantos, ligados ou não, a instituições de solidariedade, multiplicam a sua solicitude, generosidade e voluntariado, aproximando-se com amor de tantos que, na miséria moral ou material em que se encontram, só sobrevivem.
Nos últimos dias, as leituras que fizemos na celebração da Eucaristia, falaram-nos de mulheres a quem a esterilidade na mentalidade do tempo envergonhava e que foram mães de personagens com missões específicas na história de Israel: a mãe de Sansão, a mãe de Samuel, a mãe de S. João Baptista. Esta esterilidade deverá alertar-nos para a esterilidade do mundo em que vivemos, para as trevas nos envolvem, e que apenas Deus na Sua Incarnação pode e quer dissipar. O Natal é fonte de vida e de fecundidade. O Natal é bálsamo de esperança em tempo de desconfiança e desalento, é luz anunciadora de tempos novos, não porque as dificuldades desaparecerão deste «vale de lágrimas», mas porque o mistério da Incarnação nos ajuda a enfrentá-las com uma perspectiva cristã. “Só a fé nos dá esta certeza: é bom que eu exista; é bom existir como pessoa humana, mesmo em tempos difíceis. A fé faz-nos felizes a partir de dentro”. Abramos humildemente o coração à proposta de salvação que Deus tão magnanimamente nos oferece e façamos, á luz do presépio, um propósito de conversão.
Há razão para a esperança e para a alegria. Rezemos por isso com a Mãe do Céu: O meu espírito se alegra em Deus meu Salvador… O Todo-poderoso fez em mim maravilhas … A Sua misericórdia estende-se de geração em geração sobre aqueles que O temem.
Um Santo Natal para cada um de vós e para as vossas famílias.

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