1. É Outono. Época das colheitas. Tempo de terra vindimada! De frutos variados na mesa. E o “dono”, que é o “amigo” que cuida com tanto amor da sua vinha, não espera outra coisa, senão receber os seus frutos! Para isso, o proprietário da vinha envia, uma e outra vez os seus servos, os profetas, até enviar, por fim, o Seu próprio Filho. Mas estes, em vez de lhe entregarem os frutos da rectidão e da justiça, produzem violência, gritos de horror e sangue derramado! Em vez de abraços, colhem-se agraços, uvas azedas! Esta é, no fundo, a história do Amor não amado! É a longa história do amor de Deus, tantas vezes não correspondido, por parte de um Povo, que por Deus, é sempre tão acarinhado!
2. A pergunta do julgamento, sobre esta tristíssima realidade, é formulada por Jesus: «Quando vier o dono da vinha, que fará àqueles vinhateiros»? E a sentença de morte é dada pelos próprios condenados: «arrendará a vinha a outros vinhateiros, para que lhe entreguem os frutos a seu tempo». Mais uma vez, são os frutos que contam. Não as intenções, nem os discursos, nem os produtos que são apenas obra das nossas mãos!
3. Perguntemo-nos então: “Mas de que género é o fruto, que o Senhor espera de nós? À luz da imagem da vinha, oferecida por esta parábola, e lembrando a alegoria da videira e dos ramos, sabemo-lo bem: o fruto esperado são as uvas, com as quais se prepara o vinho bom e generoso!
Por agora, detenhamo-nos sobre esta imagem: para que as uvas possam amadurecer e tornar-se boas, é preciso o sol, mas também a chuva, o calor do dia e a frescura da noite. Para que dêem um vinho de qualidade, precisam de ser pisadas; há que aguardar com paciência a fermentação, seguir com cuidadosa atenção os processos de maturação.
Pensai bem: e por acaso isto mesmo não constitui uma imagem do amor e da nossa vida humana? Também nós, para crescer e amadurecer no amor, precisamos do sol e da chuva, isto é, da serenidade e da dificuldade, das fases radiosas e dos tempos de purificação e de prova. O amor a Deus e ao próximo, tal como o vinho das uvas, não é qualquer coisa simplesmente doce; traz consigo o peso da paciência, da humildade, da dificuldade no crescimento, da dor e da renúncia, para que possa amadurecer e transformar-se! Só deste modo é que o amor se torna também verdadeiro, só assim é um fruto maduro”, um fruto que permanece (cf. Bento XVI, Homilia, 29 Junho 2011).
4. Olhemos, então, para a nossa vida, pessoal, familiar ou paroquial, e deixemo-nos julgar pela parábola; vejamos quais os frutos que Deus poderá colher hoje em nossa vida?! Mais ainda: qual será o fruto da nossa vida, que não apodrece, nem desaparece com o tempo? Qual é o fruto que, com o tempo e fora do tempo, amadurece e permanece para a eternidade?
Não permanece o dinheiro, como produto das nossas mãos! Quem pôs nele a sua confiança, vê-o agora desaparecer, incontrolável, como uma bolha de água, por entre os dedos. Também os edifícios e outros bens sólidos e materiais não permanecem! Nem sequer os livros permanecem! Depois de um certo tempo, mais ou menos longo, todas estas coisas desaparecem! A única coisa que permanece eternamente é a alma humana, a pessoa criada por Deus, para a eternidade, capaz de amor, de amar e ser amada! Por isso, o fruto que permanece é o amor! O amor cresce e amadurece, mas não apodrece! «O amor não acaba nunca» (I Cor.13,8).
5. Queridos irmãos e irmãs:
Estamos em fase de planificação do ano escolar e do ano pastoral e todos esperamos, no final, uma colheita abundante de bons frutos. Mas esta imagem do fruto que permanece, vem recordar-nos onde deve estar o verdadeiro êxito do nosso esforço, e aonde havemos de concentrar e orientar todas as nossas energias! O fruto verdadeiro que permanece é tudo quanto semeámos nas almas humanas: o amor, o conhecimento, o gesto capaz de tocar o coração, a palavra que abre a alma à alegria de viver!
Para isto mesmo, o Senhor fez de nós, não servos, mas seus amigos! «“Eu vos escolhi do mundo, para que vades e deis fruto e o vosso fruto permaneça” (Jo.15,16), diz Senhor» (cf. Aclamação ao Evangelho).
Para isto mesmo, o Senhor nos envia: para sairmos de nós mesmos e irmos ao encontro dos outros! Para levarmos a todos, aos de fora e aos de casa, aos de perto e aos de longe, o vinho novo do evangelho!
Só assim, Deus poderá entrar no nosso mundo, transformá-lo, enchê-lo e preenchê-lo com a abundância e a novidade do seu amor por nós!
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