Bem Vindo ao Blog da Paróquia de Vila da Ponte -Arciprestado de Sernancelhe - Diocese de Lamego

"A opção fundamental da Vida de um Cristão é acreditar no Amor de Deus" Bento XVI

domingo, 26 de fevereiro de 2012

DESTE MODO NUNCA TÍNHAMOS VISTO!

1. Tinha Jesus saído de casa e de Cafarnaum na madrugada daquele primeiro dia da semana, muito cedo, para rezar num lugar deserto (Marcos 1,35). Procuraram-no os seus discípulos e aí o encontraram. Movia-os a ideia de o fazer regressar a Cafarnaum, apresentando para isso uma razão que julgavam suficiente: «Todos te procuram (zêtéô)» (Marcos 1,37). Já sabemos que Jesus os deixou boquiabertos, apontando-lhes outros critérios: «Vamos a outros lugares, às aldeias vizinhas, para que também lá ANUNCIE (kêrýssô); na verdade, foi para isto que saí (exêlthon)» (Marcos 1,38). Entenda-se neste «sair», não o simples facto de Jesus ter saído naquela madrugada de casa e da cidade, mas o grande êxodo de Jesus, expresso nas suas próprias palavras: «Saí (exêlthon) do Pai e vim para o mundo» (João 16,28).
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2. Sim. Andavam equivocados os discípulos de Jesus. Quem procura quem? Na verdade, como «o Pai procura os seus adoradores» João 4,23), também Jesus «vem procurar e salvar o que anda perdido» (Lucas 19,10). Divina procura. Por isso, Jesus enceta sempre novas procuras e empenha consigo os seus discípulos neste comportamento novo e inaugural.
3. Ei-lo, portanto, neste Domingo VII do Tempo Comum, de regresso a Cafarnaum, sempre sujeito, e não objecto, de novas procuras que desencadeiam novas maravilhas (Marcos 2,1-12). O cenário é simples. A Cafarnaum do tempo de Jesus, que a arqueologia mostra a quem quiser ver, obedecia helenístico-romano, assente no cardo maximus, grandes ruas no sentido norte-sul, e nos decumani, travessas este-oeste, que desenhavam a cidade em quarteirões geométricos. As casas, por sua vez, apresentam a mesma planta e o mesmo tipo de construção: formadas apenas por rés-do-chão, sem andares, tinham no pátio de entrada, um amplo espaço a céu aberto, a sua parte principal, onde se desenrolavam as actividades normais do dia-a-dia: aqui estava o moinho, o forno, aqui as mulheres preparavam as refeições, aqui trabalhavam os artesãos, aqui dormiam nas noites escaldantes de verão em esteiras estendidas pelo chão. Deste pátio partiam diversos compartimentos, compridos e estreitos, cobertos por um tecto formado por algumas vigas de madeira e terra amassada com palha. Estes compartimentos internos eram diversos, porque a casa de habitação era certamente partilhada por diversos ramos familiares (família patriarcal); eram estreitos, porque se tornava difícil a cobertura de tectos largos, não havendo madeira na região; eram compridos, porque ter muitos filhos era um ideal a perseguir e uma bênção de Deus. O conjunto habitacional, esta casa, formada pelo pátio e pelos compartimentos, estava rodeada por um muro de pedras de basalto negro da região de cerca de três metros de altura, que tinha uma porta (a única porta de toda a casa que se podia fechar) que dava para o exterior.
4. Se à descrição acima feita, acrescentarmos agora que, na casa de Pedro em que Jesus está hospedado, a porta do muro que cerca o pátio e os compartimentos se situa na fachada E, ficamos a saber que a porta abre para a rua principal (cardo maximus), e que, no caso da casa de Pedro, entre a referida porta e a rua principal, há ainda um largo espaço adicional. A arqueologia ao encontro dos dados do Evangelho, que refere que «toda a cidade estava reunida junto da porta» (Marcos 1,33).
5. Fica também ao alcance da nossa compreensão o facto de o paralítico referido no texto do Evangelho tenha sido descido pelo tecto (fácil de destapar) de um dos compartimentos da habitação, dado que era impossível para quem o transportava poder ir até junto de Jesus através da multidão.
6. Também se percebe que é Jesus que nos procura, e que só Ele sabe procurar verdadeiramente. É Ele que nos vê (ideîn) primeiro e fundo. Ele vê a fé e perdoa, isto é, recria, como só Deus sabe e pode perdoar ou recriar (Marcos 2,5). Atenção que este belíssimo dito de Jesus: «Filho, são-te perdoados os teus pecados» (Marcos 2,5) só se ouve aqui e agora. Nem antes nem depois será dita coisa semelhante. Graça oferecida que não pode ser desperdiçada! Mas também vê os corações enviesados e esclerosados dos escribas (Marcos 2,6-8), e abre diante deles a porta da salvação. Também os escribas aparecem aqui pela primeira vez. Mas não única! A «blasfémia» também surge aqui pela primeira vez (Marcos 2,7). Aparecerá de novo em Marcos 14,64, e é a causa da morte de Jesus!
7. Enfim, para maravilha dos nossos olhos tantas vezes embotados, o paralítico passa «diante de toda a gente», ouve-se um novo Gloria in excelsis Deo, e a singular anotação: «Deste modo nunca tínhamos visto» (Marcos 2,12).
8. Em perfeita sintonia, aí está hoje Isaías 43,18-25 a pôr Deus a anunciar que vai fazer uma coisa nova. E essa coisa nova é o perdão primeiro e incondicional de Deus que abre avenidas de incontida e imerecida alegria na nossa vida.
9. Deus do SIM irreversível. O grande, imenso, intenso texto de Paulo (2 Coríntios 1,19) põe diante de nós esta lição sublime: «O Filho de Deus, Jesus Cristo, que foi ANUNCIADO por nós no meio de vós, não foi SIM e NÃO, mas unicamente SIM» (2 Coríntios 1,19). Junte-se este dizer de João: «Por meio d’Ele tudo foi feito» (João 1,3). E mais este, outra vez de Paulo: «N’Ele tudo foi criado» (Colossenses 1,16). E veja-se agora em contra-luz a pura filigrana da Escritura Santa: o texto da criação, apresentado no Livro do Génesis 1,1-2,4a, contém 452 palavras hebraicas. E não registra um único NÃO!
10. Há, na verdade, um modo novo de ver e de fazer.

António Couto

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

Mensagem do Sr. D. António Couto para a Quaresma

  

O Papa Bento XVI inspirou-se na bela homilia que é a Carta aos Hebreus para falar, nesta Quaresma, ao coração da Igreja inteira e fazer soar e ressoar as suas cordas mais sensíveis, no sentido de nos fazer acordar da nossa letargia e nos persuadir a «prestar atenção uns aos outros, para acender em nós o paroxismo do amor e das obras boas e belas» (Hebreus 10,24).
«Prestar atenção» significa, como bem indica o verbo grego katanoéô, olhar de forma nova, próxima e dedicada para os outros e pelos outros. Olhar atentamente para os outros será sempre, em boa verdade, olhar pelos outros, pondo-nos ao seu serviço. Este olhar novo, limpo e diaconal dissolve o nosso olhar tantas vezes patronal, e faz-nos compreender que o outro, qualquer outro, tem sempre prioridade e precedência sobre nós.
Este procedimento novo de nos descentrarmos de nós mesmos para ficarmos por amor atentos aos outros e a olhar pelos outros é o caminho por excelência ou hiperbólico da vida cristã, como bem nos indicou São Paulo na Primeira Carta aos Coríntios (12,31). Por isso, nos tempos difíceis mas cheios de graça e de esperança que vivemos hoje, não temos o direito de nos acomodar (Romanos 12,2), passando insensivelmente ao lado das dores dos nossos irmãos, vivam eles aqui perto ou lá longe.
A Quaresma é um tempo de graça, de verdade e de escuta em alta fidelidade. É também um tempo de prova. Tempo de rasgar novas avenidas de nova sensibilidade, de abrir caminhos de caridade mais intensa, sempre a partir da Vida nova do Ressuscitado, sempre a caminho da Vida nova do Ressuscitado. Em boa verdade, é sempre bom e belo tomarmos consciência de que estamos hoje e aqui, a viver esta Quaresma do Ano da Graça de 2012, depois da Ressurreição do Senhor e por causa da Ressurreição do Senhor.
Depois da Ressurreição do Senhor e por causa da Ressurreição do Senhor. São estas as coordenadas nucleares da nossa estrada quaresmal. Não podemos, portanto, queridos irmãos, deixar de testemunhar que também hoje é possível, belo, bom e justo viver a existência humana de acordo com o Evangelho, e empenhar-nos, por isso e para isso, em viver uma vida verdadeira, plena, bela, de tal modo bela, que não seria possível explicá-la se Cristo não tivesse sido Crucificado e se não tivesse verdadeiramente Ressuscitado.
Querida Igreja desta Diocese de Lamego, não esqueças a tua identidade. Não te percas no caminho. Não te esqueças de onde vens e para onde vais. Não percas de vista Cristo Crucificado e Ressuscitado. E não te esqueças de que Ele continua vivo e actuante em ti, e solenemente exposto no rosto de cada irmão e irmã mais pequeninos.
Assim sendo e assim é, querida Igreja de Lamego, «enquanto temos tempo, façamos o bem para com todos» (Gálatas 6,10). E tu, meu irmão e minha irmã, «não deixes de fazer o bem a quem tem necessidade, quando está em tuas mãos fazê-lo. Não digas ao teu próximo: “Vai-te embora, volta amanhã e dar-te-ei, se tens aquilo de que ele necessita”» (Provérbios 3,27-28).
Lembro ainda, queridos irmãos, que esta viagem quaresmal é mais intransitiva do que transitiva. Não é tanto uma viagem exterior, nas estradas e no mapa. É mais, muito mais, uma viagem por dentro de nós, para refazer um coração que vê, entranhas que amam sem medida, pés que correm a anunciar o Evangelho, mãos abertas que acolhem e dão, mente cheia de grandes ideais. Ou, para o dizer com São Paulo: «Revesti-vos […] de entranhas de misericórdia, bondade, humildade, mansidão e magnanimidade, levantando-vos uns aos outros e fazendo-vos graça uns aos outros» (Colossenses 3,12-13).
Amados irmãos, queria propor-vos também, para este itinerário quaresmal, uma maneira concreta de prestarmos atenção aos nossos irmãos, de olharmos pelos nossos irmãos, de perto e de longe. Falo do destino a dar ao nosso contributo quaresmal diocesano, que é uma das expressões da nossa caridade. Olhando para os nossos irmãos de perto, vamos destinar uma parte do contributo da nossa caridade para o fundo solidário diocesano, para ajudar a aliviar os irmãos mais necessitados. Olhando para os nossos irmãos de longe, vamos destinar outra parte do contributo da nossa caridade para as missões de Malema e Nametil (Diocese de Nampula, Moçambique), para sentirmos também a alegria de levar um pouco de alívio a irmãos nossos que experimentam muito mais dificuldades do que nós.
Com a ternura de Jesus Cristo, saúdo todas as crianças, jovens, adultos e idosos, catequistas, acólitos, leitores, escuteiros, cantores, ministros da comunhão, membros de todas as associações, serviços e secretariados, todos os nossos seminaristas, todos os religiosos e religiosas, todos os diáconos e sacerdotes que habitam e servem a nossa Diocese de Lamego ou estão ao serviço de outras Igrejas. Saúdo com particular afecto todos os doentes, carenciados e desempregados, e as famílias que atravessam dificuldades. Uma saudação especial aos nossos emigrantes.
Na certeza da minha oração e comunhão convosco, a todos vos abraça o vosso bispo
+ António Couto, Bispo de Lamego

domingo, 19 de fevereiro de 2012

DESTE MODO NUNCA TÍNHAMOS VISTO!

1. Tinha Jesus saído de casa e de Cafarnaum na madrugada daquele primeiro dia da semana, muito cedo, para rezar num lugar deserto (Marcos 1,35). Procuraram-no os seus discípulos e aí o encontraram. Movia-os a ideia de o fazer regressar a Cafarnaum, apresentando para isso uma razão que julgavam suficiente: «Todos te procuram (zêtéô)» (Marcos 1,37). Já sabemos que Jesus os deixou boquiabertos, apontando-lhes outros critérios: «Vamos a outros lugares, às aldeias vizinhas, para que também lá ANUNCIE (kêrýssô); na verdade, foi para isto que saí (exêlthon)» (Marcos 1,38). Entenda-se neste «sair», não o simples facto de Jesus ter saído naquela madrugada de casa e da cidade, mas o grande êxodo de Jesus, expresso nas suas próprias palavras: «Saí (exêlthon) do Pai e vim para o mundo» (João 16,28).
2. Sim. Andavam equivocados os discípulos de Jesus. Quem procura quem? Na verdade, como «o Pai procura os seus adoradores» João 4,23), também Jesus «vem procurar e salvar o que anda perdido» (Lucas 19,10). Divina procura. Por isso, Jesus enceta sempre novas procuras e empenha consigo os seus discípulos neste comportamento novo e inaugural.
Clique no slide! 3. Ei-lo, portanto, neste Domingo VII do Tempo Comum, de regresso a Cafarnaum, sempre sujeito, e não objecto, de novas procuras que desencadeiam novas maravilhas (Marcos 2,1-12). O cenário é simples. A Cafarnaum do tempo de Jesus, que a arqueologia mostra a quem quiser ver, obedecia helenístico-romano, assente no cardo maximus, grandes ruas no sentido norte-sul, e nos decumani, travessas este-oeste, que desenhavam a cidade em quarteirões geométricos. As casas, por sua vez, apresentam a mesma planta e o mesmo tipo de construção: formadas apenas por rés-do-chão, sem andares, tinham no pátio de entrada, um amplo espaço a céu aberto, a sua parte principal, onde se desenrolavam as actividades normais do dia-a-dia: aqui estava o moinho, o forno, aqui as mulheres preparavam as refeições, aqui trabalhavam os artesãos, aqui dormiam nas noites escaldantes de verão em esteiras estendidas pelo chão. Deste pátio partiam diversos compartimentos, compridos e estreitos, cobertos por um tecto formado por algumas vigas de madeira e terra amassada com palha. Estes compartimentos internos eram diversos, porque a casa de habitação era certamente partilhada por diversos ramos familiares (família patriarcal); eram estreitos, porque se tornava difícil a cobertura de tectos largos, não havendo madeira na região; eram compridos, porque ter muitos filhos era um ideal a perseguir e uma bênção de Deus. O conjunto habitacional, esta casa, formada pelo pátio e pelos compartimentos, estava rodeada por um muro de pedras de basalto negro da região de cerca de três metros de altura, que tinha uma porta (a única porta de toda a casa que se podia fechar) que dava para o exterior.
4. Se à descrição acima feita, acrescentarmos agora que, na casa de Pedro em que Jesus está hospedado, a porta do muro que cerca o pátio e os compartimentos se situa na fachada E, ficamos a saber que a porta abre para a rua principal (cardo maximus), e que, no caso da casa de Pedro, entre a referida porta e a rua principal, há ainda um largo espaço adicional. A arqueologia ao encontro dos dados do Evangelho, que refere que «toda a cidade estava reunida junto da porta» (Marcos 1,33).
5. Fica também ao alcance da nossa compreensão o facto de o paralítico referido no texto do Evangelho tenha sido descido pelo tecto (fácil de destapar) de um dos compartimentos da habitação, dado que era impossível para quem o transportava poder ir até junto de Jesus através da multidão.
6. Também se percebe que é Jesus que nos procura, e que só Ele sabe procurar verdadeiramente. É Ele que nos vê (ideîn) primeiro e fundo. Ele vê a fé e perdoa, isto é, recria, como só Deus sabe e pode perdoar ou recriar (Marcos 2,5). Atenção que este belíssimo dito de Jesus: «Filho, são-te perdoados os teus pecados» (Marcos 2,5) só se ouve aqui e agora. Nem antes nem depois será dita coisa semelhante. Graça oferecida que não pode ser desperdiçada! Mas também vê os corações enviesados e esclerosados dos escribas (Marcos 2,6-8), e abre diante deles a porta da salvação. Também os escribas aparecem aqui pela primeira vez. Mas não única! A «blasfémia» também surge aqui pela primeira vez (Marcos 2,7). Aparecerá de novo em Marcos 14,64, e é a causa da morte de Jesus!
7. Enfim, para maravilha dos nossos olhos tantas vezes embotados, o paralítico passa «diante de toda a gente», ouve-se um novo Gloria in excelsis Deo, e a singular anotação: «Deste modo nunca tínhamos visto» (Marcos 2,12).
8. Em perfeita sintonia, aí está hoje Isaías 43,18-25 a pôr Deus a anunciar que vai fazer uma coisa nova. E essa coisa nova é o perdão primeiro e incondicional de Deus que abre avenidas de incontida e imerecida alegria na nossa vida.
9. Deus do SIM irreversível. O grande, imenso, intenso texto de Paulo (2 Coríntios 1,19) põe diante de nós esta lição sublime: «O Filho de Deus, Jesus Cristo, que foi ANUNCIADO por nós no meio de vós, não foi SIM e NÃO, mas unicamente SIM» (2 Coríntios 1,19). Junte-se este dizer de João: «Por meio d’Ele tudo foi feito» (João 1,3). E mais este, outra vez de Paulo: «N’Ele tudo foi criado» (Colossenses 1,16). E veja-se agora em contra-luz a pura filigrana da Escritura Santa: o texto da criação, apresentado no Livro do Génesis 1,1-2,4a, contém 452 palavras hebraicas. E não registra um único NÃO!
10. Há, na verdade, um modo novo de ver e de fazer.

António Couto

in http://mesadepalavras.wordpress.com/ 

terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

MENSAGEM DE SUA SANTIDADE PAPA BENTO XVI PARA A QUARESMA DE 2012


«Prestemos atenção uns aos outros, para nos estimularmos
ao amor e às boas obras» (
Heb 10, 24)
Irmãos e irmãs!
A Quaresma oferece-nos a oportunidade de reflectir mais uma vez sobre o cerne da vida cristã: o amor. Com efeito este é um tempo propício para renovarmos, com a ajuda da Palavra de Deus e dos Sacramentos, o nosso caminho pessoal e comunitário de fé. Trata-se de um percurso marcado pela oração e a partilha, pelo silêncio e o jejum, com a esperança de viver a alegria pascal.
Desejo, este ano, propor alguns pensamentos inspirados num breve texto bíblico tirado da Carta aos Hebreus: «Prestemos atenção uns aos outros, para nos estimularmos ao amor e às boas obras» (10, 24). Esta frase aparece inserida numa passagem onde o escritor sagrado exorta a ter confiança em Jesus Cristo como Sumo Sacerdote, que nos obteve o perdão e o acesso a Deus. O fruto do acolhimento de Cristo é uma vida edificada segundo as três virtudes teologais: trata-se de nos aproximarmos do Senhor «com um coração sincero, com a plena segurança da » (v. 22), de conservarmos firmemente «a profissão da nossa esperança» (v. 23), numa solicitude constante por praticar, juntamente com os irmãos, «o amor e as boas obras» (v. 24). Na passagem em questão afirma-se também que é importante, para apoiar esta conduta evangélica, participar nos encontros litúrgicos e na oração da comunidade, com os olhos fixos na meta escatológica: a plena comunhão em Deus (v. 25). Detenho-me no versículo 24, que, em poucas palavras, oferece um ensinamento precioso e sempre actual sobre três aspectos da vida cristã: prestar atenção ao outro, a reciprocidade e a santidade pessoal.
1. «Prestemos atenção»: a responsabilidade pelo irmão.
O primeiro elemento é o convite a «prestar atenção»: o verbo grego usado é katanoein, que significa observar bem, estar atento, olhar conscienciosamente, dar-se conta de uma realidade. Encontramo-lo no Evangelho, quando Jesus convida os discípulos a «observar» as aves do céu, que não se preocupam com o alimento e todavia são objecto de solícita e cuidadosa Providência divina (cf. Lc 12, 24), e a «dar-se conta» da trave que têm na própria vista antes de reparar no argueiro que está na vista do irmão (cf. Lc 6, 41). Encontramos o referido verbo também noutro trecho da mesma Carta aos Hebreus, quando convida a «considerar Jesus» (3, 1) como o Apóstolo e o Sumo Sacerdote da nossa fé. Por conseguinte o verbo, que aparece na abertura da nossa exortação, convida a fixar o olhar no outro, a começar por Jesus, e a estar atentos uns aos outros, a não se mostrar alheio e indiferente ao destino dos irmãos. Mas, com frequência, prevalece a atitude contrária: a indiferença, o desinteresse, que nascem do egoísmo, mascarado por uma aparência de respeito pela «esfera privada». Também hoje ressoa, com vigor, a voz do Senhor que chama cada um de nós a cuidar do outro. Também hoje Deus nos pede para sermos o «guarda» dos nossos irmãos (cf. Gn 4, 9), para estabelecermos relações caracterizadas por recíproca solicitude, pela atenção ao bem do outro e a todo o seu bem. O grande mandamento do amor ao próximo exige e incita a consciência a sentir-se responsável por quem, como eu, é criatura e filho de Deus: o facto de sermos irmãos em humanidade e, em muitos casos, também na fé deve levar-nos a ver no outro um verdadeiro alter ego, infinitamente amado pelo Senhor. Se cultivarmos este olhar de fraternidade, brotarão naturalmente do nosso coração a solidariedade, a justiça, bem como a misericórdia e a compaixão. O Servo de Deus Paulo VI afirmava que o mundo actual sofre sobretudo de falta de fraternidade: «O mundo está doente. O seu mal reside mais na crise de fraternidade entre os homens e entre os povos, do que na esterilização ou no monopólio, que alguns fazem, dos recursos do universo» (Carta enc. Populorum progressio, 66).
A atenção ao outro inclui que se deseje, para ele ou para ela, o bem sob todos os seus aspectos: físico, moral e espiritual. Parece que a cultura contemporânea perdeu o sentido do bem e do mal, sendo necessário reafirmar com vigor que o bem existe e vence, porque Deus é «bom e faz o bem» (Sal 119/118, 68). O bem é aquilo que suscita, protege e promove a vida, a fraternidade e a comunhão. Assim a responsabilidade pelo próximo significa querer e favorecer o bem do outro, desejando que também ele se abra à lógica do bem; interessar-se pelo irmão quer dizer abrir os olhos às suas necessidades. A Sagrada Escritura adverte contra o perigo de ter o coração endurecido por uma espécie de «anestesia espiritual», que nos torna cegos aos sofrimentos alheios. O evangelista Lucas narra duas parábolas de Jesus, nas quais são indicados dois exemplos desta situação que se pode criar no coração do homem. Na parábola do bom Samaritano, o sacerdote e o levita, com indiferença, «passam ao largo» do homem assaltado e espancado pelos salteadores (cf. Lc 10, 30-32), e, na do rico avarento, um homem saciado de bens não se dá conta da condição do pobre Lázaro que morre de fome à sua porta (cf. Lc 16, 19). Em ambos os casos, deparamo-nos com o contrário de «prestar atenção», de olhar com amor e compaixão. O que é que impede este olhar feito de humanidade e de carinho pelo irmão? Com frequência, é a riqueza material e a saciedade, mas pode ser também o antepor a tudo os nossos interesses e preocupações próprias. Sempre devemos ser capazes de «ter misericórdia» por quem sofre; o nosso coração nunca deve estar tão absorvido pelas nossas coisas e problemas que fique surdo ao brado do pobre. Diversamente, a humildade de coração e a experiência pessoal do sofrimento podem, precisamente, revelar-se fonte de um despertar interior para a compaixão e a empatia: «O justo conhece a causa dos pobres, porém o ímpio não o compreende» (Prov 29, 7). Deste modo entende-se a bem-aventurança «dos que choram» (Mt 5, 4), isto é, de quantos são capazes de sair de si mesmos porque se comoveram com o sofrimento alheio. O encontro com o outro e a abertura do coração às suas necessidades são ocasião de salvação e de bem-aventurança.
O facto de «prestar atenção» ao irmão inclui, igualmente, a solicitude pelo seu bem espiritual. E aqui desejo recordar um aspecto da vida cristã que me parece esquecido: a correcção fraterna, tendo em vista a salvação eterna. De forma geral, hoje é-se muito sensível ao tema do cuidado e do amor que visa o bem físico e material dos outros, mas quase não se fala da responsabilidade espiritual pelos irmãos. Na Igreja dos primeiros tempos não era assim, como não o é nas comunidades verdadeiramente maduras na fé, nas quais se tem a peito não só a saúde corporal do irmão, mas também a da sua alma tendo em vista o seu destino derradeiro. Lemos na Sagrada Escritura: «Repreende o sábio e ele te amará. Dá conselhos ao sábio e ele tornar-se-á ainda mais sábio, ensina o justo e ele aumentará o seu saber» (Prov 9, 8-9). O próprio Cristo manda repreender o irmão que cometeu um pecado (cf. Mt 18, 15). O verbo usado para exprimir a correcção fraterna – elenchein – é o mesmo que indica a missão profética, própria dos cristãos, de denunciar uma geração que se faz condescendente com o mal (cf. Ef 5, 11). A tradição da Igreja enumera entre as obras espirituais de misericórdia a de «corrigir os que erram». É importante recuperar esta dimensão do amor cristão. Não devemos ficar calados diante do mal. Penso aqui na atitude daqueles cristãos que preferem, por respeito humano ou mera comodidade, adequar-se à mentalidade comum em vez de alertar os próprios irmãos contra modos de pensar e agir que contradizem a verdade e não seguem o caminho do bem. Entretanto a advertência cristã nunca há-de ser animada por espírito de condenação ou censura; é sempre movida pelo amor e a misericórdia e brota duma verdadeira solicitude pelo bem do irmão. Diz o apóstolo Paulo: «Se porventura um homem for surpreendido nalguma falta, vós, que sois espirituais, corrigi essa pessoa com espírito de mansidão, e tu olha para ti próprio, não estejas também tu a ser tentado» (Gl 6, 1). Neste nosso mundo impregnado de individualismo, é necessário redescobrir a importância da correcção fraterna, para caminharmos juntos para a santidade. É que «sete vezes cai o justo» (Prov 24, 16) – diz a Escritura –, e todos nós somos frágeis e imperfeitos (cf. 1 Jo 1, 8). Por isso, é um grande serviço ajudar, e deixar-se ajudar, a ler com verdade dentro de si mesmo, para melhorar a própria vida e seguir mais rectamente o caminho do Senhor. Há sempre necessidade de um olhar que ama e corrige, que conhece e reconhece, que discerne e perdoa (cf. Lc 22, 61), como fez, e faz, Deus com cada um de nós.
2. «Uns aos outros»: o dom da reciprocidade.
O facto de sermos o «guarda» dos outros contrasta com uma mentalidade que, reduzindo a vida unicamente à dimensão terrena, deixa de a considerar na sua perspectiva escatológica e aceita qualquer opção moral em nome da liberdade individual. Uma sociedade como a actual pode tornar-se surda quer aos sofrimentos físicos, quer às exigências espirituais e morais da vida. Não deve ser assim na comunidade cristã! O apóstolo Paulo convida a procurar o que «leva à paz e à edificação mútua» (Rm 14, 19), favorecendo o «próximo no bem, em ordem à construção da comunidade» (Rm 15, 2), sem buscar «o próprio interesse, mas o do maior número, a fim de que eles sejam salvos» (1 Cor 10, 33). Esta recíproca correcção e exortação, em espírito de humildade e de amor, deve fazer parte da vida da comunidade cristã.
Os discípulos do Senhor, unidos a Cristo através da Eucaristia, vivem numa comunhão que os liga uns aos outros como membros de um só corpo. Isto significa que o outro me pertence: a sua vida, a sua salvação têm a ver com a minha vida e a minha salvação. Tocamos aqui um elemento muito profundo da comunhão: a nossa existência está ligada com a dos outros, quer no bem quer no mal; tanto o pecado como as obras de amor possuem também uma dimensão social. Na Igreja, corpo místico de Cristo, verifica-se esta reciprocidade: a comunidade não cessa de fazer penitência e implorar perdão para os pecados dos seus filhos, mas alegra-se contínua e jubilosamente também com os testemunhos de virtude e de amor que nela se manifestam. Que «os membros tenham a mesma solicitude uns para com os outros» (1 Cor 12, 25) – afirma São Paulo –, porque somos um e o mesmo corpo. O amor pelos irmãos, do qual é expressão a esmola – típica prática quaresmal, juntamente com a oração e o jejum – radica-se nesta pertença comum. Também com a preocupação concreta pelos mais pobres, pode cada cristão expressar a sua participação no único corpo que é a Igreja. E é também atenção aos outros na reciprocidade saber reconhecer o bem que o Senhor faz neles e agradecer com eles pelos prodígios da graça que Deus, bom e omnipotente, continua a realizar nos seus filhos. Quando um cristão vislumbra no outro a acção do Espírito Santo, não pode deixar de se alegrar e dar glória ao Pai celeste (cf. Mt 5, 16).
3. «Para nos estimularmos ao amor e às boas obras»: caminhar juntos na santidade.
Esta afirmação da Carta aos Hebreus (10, 24) impele-nos a considerar a vocação universal à santidade como o caminho constante na vida espiritual, a aspirar aos carismas mais elevados e a um amor cada vez mais alto e fecundo (cf. 1 Cor 12, 31 – 13, 13). A atenção recíproca tem como finalidade estimular-se, mutuamente, a um amor efectivo sempre maior, «como a luz da aurora, que cresce até ao romper do dia» (Prov 4, 18), à espera de viver o dia sem ocaso em Deus. O tempo, que nos é concedido na nossa vida, é precioso para descobrir e realizar as boas obras, no amor de Deus. Assim a própria Igreja cresce e se desenvolve para chegar à plena maturidade de Cristo (cf. Ef 4, 13). É nesta perspectiva dinâmica de crescimento que se situa a nossa exortação a estimular-nos reciprocamente para chegar à plenitude do amor e das boas obras.
Infelizmente, está sempre presente a tentação da tibieza, de sufocar o Espírito, da recusa de «pôr a render os talentos» que nos foram dados para bem nosso e dos outros (cf. Mt 25, 24-28). Todos recebemos riquezas espirituais ou materiais úteis para a realização do plano divino, para o bem da Igreja e para a nossa salvação pessoal (cf. Lc 12, 21; 1 Tm 6, 18). Os mestres espirituais lembram que, na vida de fé, quem não avança, recua. Queridos irmãos e irmãs, acolhamos o convite, sempre actual, para tendermos à «medida alta da vida cristã» (João Paulo II, Carta ap. Novo millennio ineunte, 31). A Igreja, na sua sabedoria, ao reconhecer e proclamar a bem-aventurança e a santidade de alguns cristãos exemplares, tem como finalidade também suscitar o desejo de imitar as suas virtudes. São Paulo exorta: «Adiantai-vos uns aos outros na mútua estima» (Rm 12, 10).
Que todos, à vista de um mundo que exige dos cristãos um renovado testemunho de amor e fidelidade ao Senhor, sintam a urgência de esforçar-se por adiantar no amor, no serviço e nas obras boas (cf. Heb 6, 10). Este apelo ressoa particularmente forte neste tempo santo de preparação para a Páscoa. Com votos de uma Quaresma santa e fecunda, confio-vos à intercessão da Bem-aventurada Virgem Maria e, de coração, concedo a todos a Bênção Apostólica.
Vaticano, 3 de Novembro de 2011
BENEDICTUS PP. XVI

O ABRAÇO SALVADOR

1. Domingo VI do Tempo Comum. O Evangelho de Marcos 1,40-45 continua a mostrar que Jesus, que é «o Reino de Deus em pessoa» (autobasileía, como bem refere Orígenes), Aquele que se fez próximo para sempre (Marcos 1,15), continua a passar pelos nossos caminhos, a cruzar-se com as nossas dores, e a assumi-las sobre si, curando a nossa pele chagada e o nosso esclerosado coração.
2. Cena comovente. Contra todas as regras estabelecidas, que impunham aos leprosos o isolamento e a distância de Deus (não podiam frequentar o Templo ou a sinagoga) e dos homens (não podiam entrar nas povoações), e o grito de «impuro, impuro» que deviam trazer nos lábios (Levítico 13,45), para que as pessoas, ao ouvir o grito, deles se distanciassem o mais possível, eis hoje um leproso que ousa aproximar-se de Jesus e colocar-se de joelhos diante dele, implorando dele a cura (Marcos 1,40). É, nos Evangelhos, o único doente que se coloca de joelhos diante de Jesus, implorando a sua cura. O gesto é o seu verdadeiro pedido, que as palavras que diz apenas iluminam. Ele sabe que a cura é um dom de Deus.
3. Um leproso, diziam os rabinos, era como um morto em vida. Separado de Deus e da comunidade do louvor de Deus, isto é, da comunhão de vida com Deus, o leproso em tudo se assemelhava aos mortos, que também estavam separados de Deus e fora do louvor de Deus, a verdadeira nascente da vida (Salmo 6,6; 88,6; Isaías 38,18). Neste sentido, o Livro de Job define a lepra como o «primogénito entre os mortos» (Job 18,13). Tanto assim era que uma eventual cura da lepra suscitava o mesmo efeito de uma ressuscitação da morte.
4. As vísceras maternas de Jesus comovem-se (splagchnízomai) quando vê o estado miserável deste seu filho. Não o pode repelir. Pelo contrário, estende a sua mão sobre ele, gesto de divina soberania (Êxodo 3,20; 7,5; Salmo 138,7), e toca-lhe e fala para ele (Marcos 1,41). Tocando-lhe, Jesus assume sobre si a lepra daquele pobre homem. É assim que o salva e nos salva.
5. Com este seu comportamento de radical proximidade fisica e afectiva, Jesus diz-nos que nos devemos abeirar de todas as pessoas, nomeadamente dos doentes e marginalizados, sempre incluindo e nunca excluindo, com uma atitude próxima, compassiva, calorosa e familiar, no pólo oposto de qualquer comportamento indiferente e asséptico.
6. «Quero, fica limpo!», diz Jesus (Marcos 1,41). Nasce um homem novo, saído das mãos puras de Deus e da sua Palavra mansa e criadora (Génesis 1; João 15,3). Um grito se calou: «impuro, impuro!». Um novo grito nasceu: o do ANÚNCIO (kêrýssô) do Evangelho (Marcos 1,45). É o terceiro ANUNCIADOR depois de João Baptista (Marcos 1,4.7) e de Jesus (Marcos 1,14.38.39). Outros se seguirão (Marcos 3,14; 5,20; 6,12; 7,36; 16,15). Provocação para nós.
7. O texto do Livro do Levítico 13,1-2.44-46 mostra-nos o caminho estreito e triste do leproso, que abre, todavia, para a larga e feliz avenida do Evangelho deste dia. E a Primeira Carta aos Coríntios 10,31-11,1 faz-nos ver o Apóstolo Paulo como «imitador» (mimêtês) de Cristo (1 Coríntios 11,1): ser na terra um «mimo» (mîmos) de Cristo, fazer como Cristo faz, fazer descer o céu à terra!

António Couto

IN http://mesadepalavras.wordpress.com/2012/02/12/o-abraco-salvador/#comments

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Entrada de D. Antonio na Diocese de Lamego

D. António Couto na festa do Seminário de Resende

Num dia em que o vento gelado se fazia sentir com especial intensidade, não faltou o calor humano na festa de Nossa Senhora de Lourdes, Padroeira do Seminário Menor de Resende.
A este Seminário, onde estudam 17 alunos, que procuram discernir a sua vocação, deslocou-se o Sr. D. António Couto, novo Bispo da Diocese de Lamego, onde chegou quando passavam poucos minutos das 10h00. À sua espera estavam os membros da Equipa Formadora do Seminário (P. António José Ferreira, Vice-Reitor; P. Miguel Peixoto, Formador; P. João Carlos Morgado, Director Espiritual; e P. José Manuel Correia, que ali colabora), seminaristas, quer de Resende, quer do Seminário Maior de Lamego, com os seus familiares, vários sacerdotes, membros da Associação dos Antigos Alunos dos Seminários da Diocese de Lamego, funcionários do Seminários e alguns benfeitores. Também marcou presença o ilustre Presidente da Câmara Municipal de Resende, Dr. António Borges, o Sr. D. Jacinto Botelho, Bispo emérito da Diocese de Lamego e o Sr. D. António José Rafael, Bispo emérito da Diocese de Bragança-Miranda, que, no passado, exerceu o seu ministério sacerdotal como Vice-Reitor do Seminário de Resende.
 
A manhã foi preenchida pela saudação de boas vindas do P. António José a todos os presentes. Seguiram-se umas breves palavras de apresentação do Sr. D. António Couto proferidas pelo seu antecessor, Sr. D. Jacinto.
Tomou, depois, a palavra o Sr. D. António Couto, para falar do tema que anima o ano escolástico no Seminário de Resende: “Aprender com Maria a viver com Jesus”. Depois de saudar os presentes, o Bispo de Lamego propôs aos presentes uma reflexão sobre Maria, usando três imagens, ou ícones: o primeiro ícone, Maria como escutadora da Palavra; o segundo, Maria como olhada amorosamente por Deus; o terceiro, Maria como bem aventurada que vai à frente a abrir novos caminhos. “Ao longo da história, não foram os políticos nem os intelectuais quem abriu caminhos novos: foram os pobres e os santos aqueles que trilharam novos rumos de santidade”, afirmou.
Em todas as imagens que apresentou, recorrendo a passagens, quer do Antigo, quer do Novo Testamento, o Sr. D. António procurou mostrar como o Seminário pode e deve ser o lugar onde, seguindo o exemplo de Maria, os seminaristas devem aprender a abrir caminhos novos, abrindo-se às pessoas num abraço terno e alegre.
O ponto alto da celebração ocorreu com a celebração da Eucaristia, presidida pelo Sr. D. António e concelebrada pelo Sr. D. Jacinto, pelo Sr. D. António Rafael, pelo Mons. Joaquim Dias Rebelo, Vigário Geral da Diocese e com cerca de duas dezenas de sacerdotes.
 
Na homilia, o Sr. D. António, no comentário às leituras do dia, referindo-se a Maria como aquela que guardava todas as palavras, compondo-as no seu coração. “Mulher bela, entretida com a Música divina, ela soube ouvir para depois espalhar essa melodia divina nos caminhos que percorreu”, afirmou o Prelado lamecense.
Seguiu-se o almoço para todos os presentes, o qual foi o prelúdio da tarde de convívio que fechou a festa da padroeira do Seminário de Resende.


Diocese de Lamego – Gabinete de Imprensa

O Evangelho do dia 14 de Fevereiro de 2012

Depois disto, o Senhor escolheu outros setenta e dois, e mandou-os dois a dois à Sua frente por todas as cidades e lugares onde havia de ir. Disse-lhes: «Grande é na verdade a messe, mas os operários poucos. Rogai, pois, ao dono da messe que mande operários para a Sua messe. Ide; eis que Eu vos envio como cordeiros entre lobos. Não leveis bolsa, nem alforge, nem calçado, e não saudeis ninguém pelo caminho. Na casa em que entrardes, dizei primeiro: A paz seja nesta casa. Se ali houver algum filho da paz, repousará sobre ele a vossa paz; senão, tornará para vós. Permanecei na mesma casa, comendo e bebendo do que tiverem, porque o operário é digno da sua recompensa. Não andeis de casa em casa. Em qualquer cidade em que entrardes e vos receberem, comei o que vos puserem diante; curai os enfermos que nela houver, e dizei-lhes: Está próximo de vós o reino de Deus.

Lc 10, 1-9

O Oriente e o Ocidente, os dois pulmões do corpo da Igreja

 
Beato João Paulo II
Discurso no VI Simpósio Episcopais da Europa (11/10/85)


Desde o início da era apostólica, que semeou o Evangelho nesta terra da Europa e a irrigou com o sangue dos mártires, desenvolveu-se esse processo plurissecular, contínuo e fecundo, que impregnou a Europa da seiva cristã. Os santos patronos da Europa, São Bento e os santos Cirilo e Metódio, são, de modo particular, testemunhas deste processo. O carisma próprio da sua obra evangelizadora consiste no facto de terem depositado germens que fizeram nascer as formas e os estilos de incarnação do Evangelho no tecido cultural e social e no espírito dos povos europeus que estavam em vias de se formar. [...] Estes santos patronos [...] continuam também a ser um modelo e uma inspiração actuais para nós, porque a obra de evangelização, na situação especial em que a Europa se encontra, é chamada a propor uma nova síntese criadora entre o Evangelho e a vida.


É preciso estar consciente da importância de enxertar a evangelização renovada nestas raízes comuns da Europa. [...] Estas raízes cristãs são particularmente ricas e inspiradoras porque se apoiam na mesma fé, se referem à mesma Igreja indivisa. [...] Por outro lado, devemos também considerar que essas raízes comuns são duplas. Porque tomaram a forma de duas correntes de tradições cristãs teológicas, litúrgicas, ascéticas, e de dois modelos de cultura, diversos, não opostos mas, pelo contrário, complementares e que se enriquecem mutuamente. Bento impregnou a tradição cristã e cultural do Ocidente do espírito de latinidade, mais lógico e racional; Cirilo e Metódio são os representantes da antiga cultura grega, mais intuitiva e mística, e são venerados como os pais da tradição dos povos eslavos.


Compete-nos recolher a herança deste pensamento, rico e complementar, e encontrar os meios e os métodos apropriados à sua actualização e uma comunicação espiritual mais intensa entre o Oriente e o Ocidente.

Timóteo e Tito, sucessores dos apóstolos

 

Catecismo da Igreja Católica §§ 863-865

Toda a Igreja é apostólica, na medida em que, através dos sucessores de Pedro e dos Apóstolos, permanece em comunhão de fé e de vida com a sua origem. Toda a Igreja é apostólica, na medida em que é «enviada» a todo o mundo. Todos os membros da Igreja, embora de modos diversos, participam deste envio. «A vocação cristã é também, por natureza, vocação para o apostolado». E chamamos «apostolado» a «toda a actividade do Corpo Místico» tendente a «alargar o Reino de Cristo à terra inteira» (Vaticano II, Apostolicam Actuositatem, 2).

«Sendo Cristo, enviado do Pai, a fonte e a origem de todo o apostolado da Igreja», é evidente que a fecundidade do apostolado, tanto dos ministros ordenados como dos leigos, depende da sua união vital com Cristo (ibid., 6). Segundo as vocações, as exigências dos tempos e os vários dons do Espírito Santo, o apostolado toma as formas mais diversas. Mas é sempre a caridade, haurida principalmente na Eucaristia, «que é como que a alma de todo o apostolado» (ibid., 3).

A Igreja é una, santa, católica e apostólica na sua identidade profunda e última, porque é nela que existe desde já, e será consumado no fim dos tempos, «o Reino dos céus», «o Reino de Deus» (Ap 19, 6), que veio até nós na Pessoa de Cristo e que cresce misteriosamente no coração dos que n'Ele estão incorporados, até à sua plena manifestação escatológica. Então, todos os homens por Ele resgatados e n' Ele tornados «santos e imaculados na presença de Deus no amor» (Ef 1, 4), serão reunidos como o único povo de Deus, «a Esposa do Cordeiro» (Ap 21, 9), «a Cidade santa descida do céu, de junto de Deus, trazendo em si a glória do mesmo Deus» (Ap 21, 10-11). E «a muralha da cidade assenta sobre doze alicerces, cada um dos quais tem o nome de um dos Doze apóstolos do Cordeiro» (Ap 21, 14).

O testemunho de São Lucas: «Resolvi eu também, depois de tudo ter investigado cuidadosamente [...], expô-los a ti por escrito» (Lc 1,3)


Concílio Vaticano II
Constituição Dogmática «Dei Verbum» Sobre A Revelação Divina, § 18-19

Ninguém ignora que, entre todas as Escrituras, mesmo as do Novo Testamento, os Evangelhos têm o primeiro lugar, enquanto são o principal testemunho da vida e doutrina do Verbo encarnado, nosso Salvador.

A Igreja defendeu e defende sempre e em toda a parte a origem apostólica dos quatro Evangelhos. Com efeito, aquelas coisas que os Apóstolos, por ordem de Cristo, pregaram foram depois, por inspiração do Espírito Santo, transmitidas por escrito por eles mesmos e por varões apostólicos como fundamento da fé, ou seja, o Evangelho quadriforme, segundo Mateus, Marcos, Lucas e João.

A Santa Madre Igreja defendeu e defende, firme e constantemente, que estes quatro Evangelhos, cuja historicidade afirma sem hesitação, transmitem fielmente as coisas que Jesus, Filho de Deus, durante a Sua vida terrena, realmente operou e ensinou para salvação eterna dos homens, até ao dia em que subiu ao céu (cf Act 1,1-2). Na verdade, após a ascensão do Senhor, os Apóstolos transmitiram aos seus ouvintes, com aquela compreensão mais plena de que eles, instruídos pelos acontecimentos gloriosos de Cristo e iluminados pelo Espírito de verdade (Jo 14,26) gozavam, as coisas que Ele tinha dito e feito.

Os autores sagrados, porém, escreveram os quatro Evangelhos escolhendo algumas coisas, entre as muitas transmitidas por palavra ou por escrito, sintetizando umas, desenvolvendo outras, segundo o estado das igrejas, conservando finalmente o carácter de pregação, mas sempre de maneira a comunicar-nos coisas autênticas e verdadeiras acerca de Jesus. Com efeito, quer relatassem aquilo de que se lembravam e recordavam, quer se baseassem no testemunho daqueles «que desde o princípio foram testemunhas oculares e ministros da palavra», fizeram-no sempre com intenção de que conheçamos a «verdade» das coisas a respeito das quais fomos instruídos (cf Lc 1,2-4).

sábado, 4 de fevereiro de 2012

Prece ao Senhor por Bento XVI

Senhor protegei dia e noite o sucessor de Pedro e que o Vosso Espírito continue a iluminá-lo e protegê-lo.

Senhor concedei-lhe toda a Vossa Divina protecção contra os seus detractores, ainda que como Jesus Cristo vosso Filho nos avisou “E vós sereis odiados por todos, por causa do meu nome. Mas aquele que se mantiver firme até ao fim será salvo” (Mat 10, 2).

Senhor continuai a dar-lhe a extraordinária capacidade de guiar a Vossa Santa Madre Igreja com a sua excepcional aptidão de interpretação e divulgação das Sagradas Escrituras.

Senhor enchei o seu coração da Vossa Divina sabedoria para que a sua busca pela unidade dos cristãos seja semente que caia «em terra boa e deram fruto: umas, cem; outras, sessenta; e outras, trinta» (Mat 13, 8).

Senhor dai-lhe a força e o ânimo para prosseguir na estrada que na Vossa infinita sabedoria através do Vosso Espírito para ele haveis traçado.

Senhor fazei com que o Vosso povo encha o seu coração com a suas orações.

Ámen

Dia Mundial do Consagrado – Vigília de Oração

«Vós, jovens, não vos conformeis com as pautas deste mundo (Romanos 12,2). Experimentai viver em Hi-Fi, alta frequência, alta fidelidade, alta dedicação, amor novo. Há uma música nova à vossa espera. É como um som que nunca se ouviu, como um silêncio que nunca se calou!»
Foi, com este desafio, que o novo Bispo de Lamego, D. António Couto, terminou a homilia que pronunciou na Vigília de Oração por ocasião do Dia Mundial do Consagrado, realizada na Igreja de Almacave, no dia 3 de Fevereiro de 2012.
A Igreja, cheia de fiéis, entre os quais muitos jovens, marcaram presença na primeira ocasião em que o novo Bispo da Diocese presidiu a um evento diocesano. A Vigília de Oração, promovida pelo Secretariado Diocesano das Vocações, em parceria com a Paróquia de Almacave, para além do Sr. D. António, contou com a presença de vários sacerdotes, um grande número de religiosos e religiosas, leigos consagrados, alguns Seminaristas da Diocese e outros fiéis.
Depois do cântico de entrada, procedeu-se à exposição do Santíssimo Sacramento. Foram-se intercalando momentos de silêncio, com cânticos. Ouviram-se testemunhos vocacionais e, na sua homilia, o Sr. D. António afirmou que «hoje somos nós que nos chamamos Simeão e Ana. Somos nós que recebemos esta Luz nos braços, e que ficamos a fazer parte da família da Felicidade e a viver pertinho de Deus, Rosto a Rosto com Deus, Escutadores atentos ao bater do coração de Deus, movidos pelo Espírito de Deus, Recebedores de Deus, Anunciadores de Deus. Rezamos hoje para que, nesta sociedade de coisas e de números, os Consagrados vivam cada vez mais Rosto a Rosto com Deus, e dêem testemunho no mundo deste Dom maravilhoso.»
Já depois da vigília, o Sr. D. António trocou algumas impressões com alguns membros do Grupo de Jovens da Paróquia de Almacave, que animaram este encontro de oração.

HOMILIA DO PAPA BENTO XVI 02.02.2012

Prezados irmãos e irmãs!
Na festa hodierna contemplamos o Senhor Jesus que Maria e José apresentam no templo «para O oferecer ao Senhor» (Lc 2, 22). Nesta cena evangélica revela-se o mistério do Filho da Virgem, o consagrado do Pai, que veio ao mundo para cumprir fielmente a sua vontade (cf. Hb 10, 5-7). Simeão indica-o como «luz para iluminar as nações» (Lc 2, 32) e anuncia com palavra profética a sua oferta suprema a Deus e a sua vitória final (cf. Lc 2, 32-35). É o encontro dos dois Testamentos, Antigo e Novo. Jesus entra no antigo templo, Ele que é o novo Templo de Deus: vem visitar o seu povo, obedecendo à Lei e inaugurando os tempos últimos da salvação.
É interessante observar de perto este ingresso do Menino Jesus na solenidade do templo, num grande «vaivém» de muitas pessoas, ocupadas com os seus afazeres: os sacerdotes e os levitas com os seus turnos de serviço, os numerosos devotos e peregrinos, desejosos de se encontrar com o Deus santo de Israel. Porém, nenhum deles se dá conta de nada. Jesus é um menino como os outros, filho primogénito de dois pais muito simples. Até os sacerdotes são incapazes de captar os sinais da nova e especial presença do Messias e Salvador. Só dois anciãos, Simeão e Ana, descobrem a grande novidade. Guiados pelo Espírito Santo, eles encontram nesse Menino o cumprimento da sua longa espera e vigilância. Ambos contemplam a luz de Deus, que vem iluminar o mundo, e o seu olhar profético abre-se ao futuro, como anúncio do Messias: «Lumen ad revelationem gentium!» (Lc 2, 32). Na atitude profética dos dois anciãos está toda a Antiga Aliança que exprime a alegria do encontro com o Redentor. Ao virem o Menino, Simeão e Ana intuem que Ele é precisamente o Esperado.
A Apresentação de Jesus no templo constitui um ícone eloquente da doação total da própria vida por quantos, homens e mulheres, são chamados a reproduzir na Igreja e no mundo, mediante os conselhos evangélicos, «os traços característicos de Jesus casto, pobre e obediente» (Vita consecrata, 1). Por isso, a Festa hodierna foi escolhida pelo Venerável João Paulo II para celebrar o anual Dia da Vida Consagrada. Neste contexto, dirijo uma saudação cordial e reconhecida a D. João Braz de Aviz, que há pouco nomeei Prefeito da Congregação para os Institutos de Vida Consagrada e para as Sociedades de Vida Apostólica, com o Secretário e os colaboradores. Saúdo com afecto os Superiores-Gerais presentes e todas as pessoas consagradas.
Gostaria de propor três breves pensamentos para a reflexão nesta Festa. O primeiro: o ícone evangélico da Apresentação de Jesus no templo contém o símbolo fundamental da luz que, partindo de Cristo, se irradia sobre Maria e José, sobre Simeão e Ana e, através deles, sobre todos. Os Padres da Igreja uniram esta irradiação ao caminho espiritual. A vida consagrada exprime este caminho de modo especial como «filocalia», amor pela beleza divina, reflexo da bondade de Deus (cf. ibid., 19). No rosto de Cristo resplandece a luz de tal beleza. «A Igreja contempla o rosto transfigurado de Cristo, para se confirmar na fé e não correr o risco de perder ao ver o seu rosto desfigurado na Cruz... ela é a Esposa na presença do Esposo, que participa do seu mistério, envolvida pela sua luz, [que] atinge todos os seus filhos... Mas uma singular experiência dessa luz que dimana do Verbo encarnado é feita, sem dúvida, pelos que são chamados à vida consagrada. Na verdade, a profissão dos conselhos evangélicos coloca-os como sinal e profecia para a comunidade dos irmãos e para o mundo» (Ibid., 15).
Em segundo lugar, o ícone evangélico manifesta a profecia, dom do Espírito Santo. Contemplando o Menino Jesus, Simeão e Ana vislumbram o seu destino de morte e ressurreição para a salvação de todos os povos e anunciam tal mistério como salvação universal. A vida consagrada é chamada a tal testemunho profético, ligado à sua dupla atitude contemplativa e activa. De facto, aos consagrados e consagradas é dado manifestar o primado de Deus, a paixão pelo Evangelho praticado como forma de vida e anunciado aos pobres e aos últimos da terra. «Em virtude desta primazia, nada pode ser preferido ao amor pessoal por Cristo e pelos pobres, nos quais Ele vive. A verdadeira profecia nasce de Deus, da amizade com Ele, da escuta diligente da sua Palavra nas diversas circunstâncias da história» (Ibid., 84). Deste modo a vida consagrada, na sua vivência diária pelos caminhos da humanidade, manifesta o Evangelho e o Reino já presente e concreto.
Em terceiro lugar, o ícone evangélico da Apresentação de Jesus no templo expressa a sabedoria de Simeão e Ana, a sabedoria de uma vida dedicada totalmente à busca do rosto de Deus, dos seus sinais, da sua vontade; uma vida dedicada à escuta e ao anúncio da sua Palavra. «“Faciem tuam, Domine, requiram”: busco a vossa face, ó Senhor (Sl 26, 8)... A vida consagrada é no mundo e na Igreja sinal visível desta busca do rosto do Senhor e dos caminhos que a Ele conduzem (cf. Jo 14, 8)... A pessoa consagrada testemunha portanto o empenho alegre e diligente da busca assídua e sábia da vontade divina» (cf. Congregação para os Institutos de Vida Consagrada e para as Sociedades de Vida Apostólica, Instrução O serviço da autoridade e a obediência. Faciem tuam Domine requiram [2008], 1).
Caros irmãos e irmãs, sede ouvintes assíduos da Palavra, porque toda a sabedoria de vida nasce da Palavra do Senhor! Sede perscrutadores da Palavra através da lectio divina, porque a vida consagrada «nasce da escuta da Palavra de Deus e acolhe o Evangelho como sua norma de vida». Deste modo, viver no seguimento de Cristo casto, pobre e obediente é uma “exegese” viva da Palavra de Deus. O Espírito Santo, por cuja virtude foi escrita a Bíblia, é o mesmo que ilumina a Palavra de Deus, com nova luz, para os fundadores e fundadoras. Dela brotou cada um dos carismas e dela cada regra quer ser expressão, dando origem a itinerários de vida cristã marcados pela radicalidade evangélica» (Verbum Domini, 83).
Hoje vivemos, sobretudo nas sociedades mais avançadas, uma condição muitas vezes marcada por uma pluralidade radical, por uma marginalização progressiva da religião da esfera pública, de um relativismo que atinge os valores fundamentais. Isto exige que o nosso testemunho cristão seja luminoso e coerente, e que o nosso esforço educativo seja cada vez mais atento e generoso. A vossa obra apostólica, em particular, dilectos irmãos e irmãs, se torne empenho de vida que acede com paixão perseverante à Sabedoria como verdade e beleza, «esplendor da verdade». Sabei orientar com a sabedoria da vossa vida, e com a confiança nas possibilidades inesgotáveis da verdadeira educação, a inteligência e o coração dos homens e das mulheres do nosso tempo em relação à «vida boa do Evangelho».
Neste momento, dirijo o meu pensamento com carinho especial a todos os consagrados e consagradas, em todas as partes da terra, enquanto vos confio à Bem-Aventurada Virgem Maria:
Ó Maria, Mãe da Igreja,
confio-te toda a vida consacrada,
para que lhe obtenhas a plenitude da luz divina:
viva na escuta da Palavra de Deus,
na humildade da sequela de Jesus, teu Filho e nosso Senhor,
no acolhimento da visita do Espírito Santo,
na alegria diária do
magnificat,a fim de que a Igreja seja edificada pela santidade de vida
destes teus filhos e filhas,
no mandamento do amor. Amém!

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

Neve na Praça de São Pedro

Pequeno Vídeo da Tomada de Posse de D. António Couto

Imagens: Kymagem
Som: Grupo Coral da Sé (cânticos do dia da tomada de posse).

Na festa da Apresentação do Senhor

1. A Igreja Una e Santa celebra em 2 de Fevereiro, quarenta dias depois do Natal, a Festa da APRESENTAÇÃO do Senhor, que as Igrejas do Oriente conhecem por Festa do ENCONTRO (Hypapantê) e dos Encontros: Encontro de DEUS com o seu POVO agradecido, mas também de MARIA, de JOSÉ e de JESUS com SIMEÃO e ANA. Também connosco.
2. Quarenta dias depois do seu nascimento, sujeito à Lei (Gálatas 4,4), JESUS, como filho varão primogénito, é APRESENTADO a Deus, a quem, sempre segundo a Lei de Deus, pertence. De facto, o Livro do Êxodo prescreve que todo o filho primogénito, macho, quer dos homens quer dos animais, é pertença de Deus (Êxodo 13,11-13), bem como os primeiros frutos dos campos (Deuteronómio 26,1-10).
3. É assim que, para cumprir a Lei de Deus, quarenta dias depois do seu nascimento, JESUS é levado pela primeira vez ao Templo, onde, também pela primeira vez, se deixa ver como a Luz do mundo e a nossa esperança.
4. Compõe a cena um velhinho chamado SIMEÃO, nome que significa «ESCUTADOR», que vive atentamente à escuta, e que o Evangelho apresenta como um homem justo e piedoso, que esperava a consolação de Israel. Ora, esse velhinho que vivia à espera e à escuta, com premurosa atenção, veio ao Templo, e, ao ver aquele MENINO, pegou nele nos braços. Por isso, os Padres gregos dão a SIMEÃO o título belo de Theodóchos [= recebedor de Deus]. É então que SIMEÃO entoa o canto feliz do entardecer da sua vida, um dos mais belos cantos que a Bíblia regista: «Agora, Senhor, podes deixar o teu servo partir em paz, porque os meus olhos viram a tua salvação, que preparaste diante de todos os povos, Luz que vem iluminar as nações e glória do teu povo, Israel!»
5. E, na circunstância, também uma velhinha chegou carregada de esperança. Chamava-se ANA, que significa «GRAÇA»; é dita «Profetisa», isto é, que anda sintonizada em onda curta com a Palavra de Deus; era filha de Fanuel, que significa «Rosto de Deus»; era da tribo de Aser, que significa «Felicidade». Tanta intimidade com Deus! Também esta velhinha serena e feliz – com 84 anos, número perfeito de números perfeitos (7 x 12) – viu aquele MENINO. E diz o Evangelho que se pôs a falar dele a todos os que esperavam a libertação de Jerusalém!
6. Esta é a Festa da Alegria e da Esperança acumulada e realizada. É a Festa da Luz. SIMEÃO e ANA viram a Luz e exultaram de Alegria. HOJE somos nós que nos chamamos SIMEÃO e ANA. Somos nós que recebemos esta Luz nos braços, e que ficamos a fazer parte da família da Felicidade e a viver pertinho de Deus, Rosto a Rosto com Deus, Escutadores atentos do bater do coração de Deus. Felizes sois vós, os pobres! (Lucas 6,20). Felizes os olhos que vêem o que vós vedes e os ouvidos que ouvem o que vós ouvis! (Lucas 10,23).
7. Fevereiro é um mês de Alegria, de Apresentação e Encontro, de Consagração e Contemplação. Num mundo triste e cansado, e tantas vezes enjoado, como o nosso, Maria, José e o Menino, Simeão e Ana são ícones de Felicidade, que nos vêm dizer que se cresce, não apenas em idade, mas em idade, sabedoria e Graça!
+ António Couto, Bispo de Lamego
In Mesa de Palavras

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

Apresentação do Senhor



Nota Histórica
Quarenta dias após o nascimento de Jesus, em obediência à lei de Moisés (Ex. 13, 11-13), Maria leva o Menino ao templo, a fim de ser oferecido ao Senhor. Toda a oferta implica uma renúncia. Por isso, a Apresentação do Senhor não é um mistério gozoso, mas doloroso. Começa, nesse dia, o mistério de sofrimento, que atingirá o seu ponto culminante no Calvário, quando Jesus, que não foi «poupado» pelo Pai, oferecer o Seu Sangue como sinal da nova e definitiva Aliança. Ao oferecer Jesus, Maria oferece-Se também com Ele. Durante toda a vida de Jesus, estará sempre ao lado do Filho, dando a Sua colaboração para a obra da Redenção.
O gesto de Maria, que «oferece», traduz-se em gesto litúrgico, quando ao celebrarmos a Eucaristia, oferecemos «os frutos da terra e do trabalho do homem», símbolo da nossa vida.
Antes da Missa, está prevista no Missal a procissão das velas, acesas em honra de Cristo que vem como luz das nações, e ao encontro de quem a Igreja caminha guiada já por essa mesma luz.
Missa

ANTÍFONA DE ENTRADA Salmo 47, 10-11
Recordamos, Senhor, a vossa misericórdia
no meio do vosso templo.
Toda a terra proclama o louvor do vosso nome,
porque sois justo e santo, Senhor nosso Deus.

Diz-se o Glória.


ORAÇÃO COLECTA
Deus eterno e omnipotente,
humildemente Vos suplicamos
que, assim como o vosso Filho Unigénito
foi neste dia apresentado no templo,
revestido da natureza humana,
assim também, de alma purificada,
nos apresentemos diante de Vós.
Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho,
que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.


LEITURA I Mal 3, 1-4
«Entrará no seu templo o Senhor a quem buscais»

Leitura da Profecia de Malaquias
Assim fala o Senhor Deus:
«Vou enviar o meu mensageiro,
para preparar o caminho diante de Mim.
Imediatamente entrará no seu templo
o Senhor a quem buscais,
o Anjo da Aliança por quem suspirais.
Ele aí vem – diz o Senhor do Universo –.
Mas quem poderá suportar o dia da sua vinda,
quem resistirá quando Ele aparecer?
Ele é como o fogo do fundidor
e como a lixívia dos lavandeiros.
Sentar-Se-á para fundir e purificar:
purificará os filhos de Levi,
como se purifica o ouro e a prata,
e eles serão para o Senhor
os que apresentam a oblação segundo a justiça.
Então a oblação de Judá e de Jerusalém será agradável ao Senhor,
como nos dias antigos, como nos anos de outrora.
Palavra do Senhor.


SALMO RESPONSORIAL Salmo 23 (24), 7.8.9.10 (R. 10b)
Refrão: O Senhor do Universo é o Rei da glória.

Levantai, ó portas, os vossos umbrais,
alteai-vos, pórticos antigos,
e entrará o Rei da glória.

Quem é esse Rei da glória?
O Senhor forte e poderoso,
o Senhor poderoso nas batalhas.

Levantai, ó portas, os vossos umbrais,
alteai-vos, pórticos antigos,
e entrará o Rei da glória.

Quem é esse Rei da glória?
O Senhor dos Exércitos,
é Ele o Rei da glória.


LEITURA II Hebr 2, 14-18
«Devia tornar-Se semelhante em tudo aos seus irmãos»

Leitura da Epístola aos Hebreus
Uma vez que os filhos dos homens
têm o mesmo sangue e a mesma carne,
também Jesus participou igualmente da mesma natureza,
para destruir, pela sua morte,
aquele que tinha poder sobre a morte, isto é, o diabo,
e libertar aqueles que estavam a vida inteira
sujeitos à servidão,
pelo temor da morte.
Porque Ele não veio em auxílio dos Anjos,
mas dos descendentes de Abraão.
Por isso devia tornar-Se semelhante em tudo aos seus irmãos,
para ser um sumo sacerdote misericordioso e fiel
no serviço de Deus,
e assim expiar os pecados do povo.
De facto, porque Ele próprio foi provado pelo sofrimento,
pode socorrer aqueles que sofrem provação.
Palavra do Senhor.


ALELUIA Lc 2, 32
Refrão: Aleluia. Repete-se
Luz para se revelar às nações
e glória de Israel, vosso povo. Refrão


EVANGELHO Forma longa Lc 2, 22-40
«Os meus olhos viram a vossa salvação»

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas
Ao chegarem os dias da purificação, segundo a Lei de Moisés,
Maria e José levaram Jesus a Jerusalém,
para O apresentarem ao Senhor,
como está escrito na Lei do Senhor:
«Todo o filho primogénito varão será consagrado ao Senhor»,
e para oferecerem em sacrifício
um par de rolas ou duas pombinhas,
como se diz na Lei do Senhor.
Vivia em Jerusalém um homem chamado Simeão,
homem justo e piedoso,
que esperava a consolação de Israel;
e o Espírito Santo estava nele.
O Espírito Santo revelara-lhe que não morreria
antes de ver o Messias do Senhor;
e veio ao templo, movido pelo Espírito.
Quando os pais de Jesus trouxeram o Menino
para cumprirem as prescrições da Lei no que lhes dizia respeito,
Simeão recebeu-O em seus braços
e bendisse a Deus, exclamando:
«Agora, Senhor, segundo a vossa palavra,
deixareis ir em paz o vosso servo,
porque os meus olhos viram a vossa salvação,
que pusestes ao alcance de todos os povos:
luz para se revelar às nações
e glória de Israel, vosso povo».
O pai e a mãe do Menino Jesus estavam admirados
com o que d’Ele se dizia.
Simeão abençoou-os
e disse a Maria, sua Mãe:
«Este Menino foi estabelecido
para que muitos caiam ou se levantem em Israel
e para ser sinal de contradição;
– e uma espada trespassará a tua alma –
assim se revelarão os pensamentos de todos os corações».
Havia também uma profetiza,
Ana, filha de Fanuel, da tribo de Aser.
Era de idade muito avançada
e tinha vivido casada sete anos após o tempo de donzela
e viúva até aos oitenta e quatro.
Não se afastava do templo,
servindo a Deus noite e dia, com jejuns e orações.
Estando presente na mesma ocasião,
começou também a louvar a Deus
e a falar acerca do Menino
a todos os que esperavam a libertação de Jerusalém.
Cumpridas todas as prescrições da Lei do Senhor,
voltaram para a Galileia, para a sua cidade de Nazaré.
Entretanto, o Menino crescia
e tornava-Se robusto, enchendo-Se de sabedoria.
E a graça de Deus estava com Ele.
Palavra da salvação.


EVANGELHO Forma breve Lc 2, 22-32
«Os meus olhos viram a vossa salvação»

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas
Ao chegarem os dias da purificação, segundo a Lei de Moisés,
Maria e José levaram Jesus a Jerusalém,
para O apresentarem ao Senhor,
como está escrito na Lei do Senhor:
«Todo o filho primogénito varão será consagrado ao Senhor»,
e para oferecerem em sacrifício
um par de rolas ou duas pombinhas,
como se diz na Lei do Senhor.
Vivia em Jerusalém um homem chamado Simeão,
homem justo e piedoso,
que esperava a consolação de Israel;
e o Espírito Santo estava nele.
O Espírito Santo revelara-lhe que não morreria
antes de ver o Messias do Senhor;
e veio ao templo, movido pelo Espírito.
Quando os pais de Jesus trouxeram o Menino
para cumprirem as prescrições da Lei no que lhes dizia respeito,
Simeão recebeu-O em seus braços
e bendisse a Deus, exclamando:
«Agora, Senhor, segundo a vossa palavra,
deixareis ir em paz o vosso servo,
porque os meus olhos viram a vossa salvação,
que pusestes ao alcance de todos os povos:
luz para se revelar às nações
e glória de Israel, vosso povo».
Palavra da salvação.


ORAÇÃO SOBRE AS OBLATAS
Senhor, que na vossa bondade
quisestes que o vosso Filho Unigénito Se oferecesse a Vós
como Cordeiro sem mancha pela vida do mundo,
fazei que Vos seja agradável a oblação da vossa Igreja em festa.
Por Nosso Senhor.


PREFÁCIO Cristo, luz das nações
V. O Senhor esteja convosco.
R. Ele está no meio de nós.
V. Corações ao alto.
R. O nosso coração está em Deus.
V. Dêmos graças ao Senhor nosso Deus.
R. É nosso dever, é nossa salvação.
Senhor, Pai santo, Deus eterno e omnipotente,
é verdadeiramente nosso dever, é nossa salvação
dar-Vos graças, sempre e em toda a parte.
Hoje o vosso Filho, eterno como Vós,
é apresentado no templo
e proclamado pelo Espírito Santo
glória de Israel e luz das nações.
Por isso, vamos com alegria ao encontro do Salvador
e com os Anjos e os Santos proclamamos a vossa glória,
cantando numa só voz:
Santo, Santo, Santo.


ANTÍFONA DA COMUNHÃO Lc 2, 30-31
Os meus olhos viram a salvação
que oferecestes a todos os povos.


ORAÇÃO DEPOIS DA COMUNHÃO
Deus de bondade,
que respondestes à esperança do santo Simeão,
confirmai em nós a obra da vossa graça:
assim como lhe destes a alegria de receber em seus braços, antes de morrer, a Cristo vosso Filho,
concedei que também nós, fortalecidos por estes sacramentos, caminhemos ao encontro do Senhor
e alcancemos a vida eterna.
Por Nosso Senhor.
Liturgia das horas
Dos Sermões de São Sofrónio, bispo

(Orat. 3 de Hypapante, 6-7: PG 87, 3, 3291-3293) (Sec. VII)

Recebamos a luz clara e eterna

Todos nós que celebramos e veneramos com tanta piedade o mistério do Encontro do Senhor, corramos para Ele com todo o fervor do nosso espírito. Ninguém deixe de participar neste Encontro, ninguém se recuse a levar a sua luz.
Levemos em nossas mãos o brilho das velas, para significar o esplendor divino d’Aquele que Se aproxima e ilumina todas as coisas, dissipando as trevas do mal com a sua luz eterna, e também para manifestar o esplendor da alma, com o qual devemos correr ao encontro de Cristo.
Assim como a Virgem Mãe de Deus levou ao colo a luz verdadeira e a comunicou àqueles que jaziam nas trevas, assim também nós, iluminados pelo seu fulgor e trazendo na mão uma luz que brilha diante de todos, devemos acorrer pressurosos ao encontro d’Aquele que é a verdadeira luz.
Na verdade a luz veio ao mundo e, dispersando as trevas que o envolviam, encheu-o de esplendor; visitou-nos do alto o Sol nascente e derramou a sua luz sobre os que se encontravam nas trevas: este é o significado do mistério que hoje celebramos. Caminhemos empunhando as lâmpadas, acorramos trazendo as luzes, não só para indicar que a luz refulge já em nós, mas também para anunciar o esplendor maior que dela nos há-de vir. Por isso, vamos todos juntos, corramos ao encontro de Deus.
Eis que veio a luz verdadeira, que ilumina todo o homem que vem a este mundo. Todos nós, portanto, irmãos, deixemo-nos iluminar, para que brilhe em nós esta luz verdadeira.
Nenhum fique excluído deste esplendor, nenhum persista em continuar imerso na noite, mas avancemos todos resplandecentes; iluminados por este fulgor, vamos todos juntos ao seu encontro e com o velho Simeão recebamos a luz clara é eterna; associemo-nos à sua alegria e cantemos com ele um hino de acção de graças ao Pai da luz, que enviou a luz verdadeira e, afastando todas as trevas, nos fez participantes do seu esplendor.
A salvação de Deus, com efeito, preparada diante de todos os povos, manifestou a glória que nos pertence a nós, que somos o novo Israel; e nós próprios, graças a Ele, vimos essa salvação e fomos absolvidos da antiga e tenebrosa culpa, tal como Simeão, depois de ver a Cristo, foi libertado dos laços da vida presente.
Também nós, abraçando pela fé a Cristo Jesus que vem de Belém, nos convertemos de pagãos em povo de Deus (Jesus é com efeito a Salvação de Deus Pai) e vemos com os nossos próprios olhos Deus feito carne; e porque vimos a presença de Deus e a recebemos, por assim dizer, nos braços do nosso espírito, nos chamamos novo Israel. Com esta festa celebramos cada ano de novo essa presença, que nunca esquecemos.